Rússia suspende acordo de exportação de cereais pelo Mar Negro
17 de jul. de 2023, 11:28
— Lusa/AO Online
"O
acordo dos cereais está suspenso", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri
Peskov, durante a sua conferência de imprensa diária por telefone.“Quando
a parte do acordo do Mar Negro relacionada à Rússia for cumprida, a
Rússia retornará imediatamente à implementação do acordo”, afirmou
Peskov.O porta-voz do Kremlin declarou que
o ataque a uma ponte que liga a Crimeia ao continente russo não foi um
fator para a decisão da suspensão do acordo.“Não, estes desenvolvimentos não estão ligados”, frisou. “Mesmo
antes deste ataque terrorista, o Presidente [da Rússia, Vladimir] Putin
tinha declarado a nossa posição” sobre esta questão dos cereais,
sublinhou o porta-voz russo.O acordo
inovador que as Nações Unidas e a Turquia negociaram no verão passado
permitiu que toneladas de alimentos deixassem a região do Mar Negro,
após a Rússia ter invadido a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022.Um acordo separado facilitou a movimentação de alimentos e fertilizantes russos em meio às sanções dos países ocidentais.A Rússia e a Ucrânia são grandes fornecedores globais de trigo, cevada, óleo de girassol e outros produtos alimentares.Os
russos queixaram-se que as restrições ao transporte marítimo e os
seguros prejudicaram as exportações dos seus alimentos e fertilizantes,
também essenciais para a cadeia alimentar global.Analistas
e dados de exportação mostram que a Rússia tem exportado quantidades
recordes de trigo e que os seus fertilizantes também estão a ser
exportados.O acordo de exportação de
cereais pelo Mar Negro foi renovado por 60 dias em maio, apesar da
resistência de Moscovo. A quantidade de alimentos embarcados e o número
de navios que partiam da Ucrânia tem caído nos últimos meses. A Rússia
está a ser acusada de limitar a utilização de navios adicionais para a
exportação de cereais.Embora os analistas
não esperem mais do que um aumento temporário nos preços dos produtos
alimentares, porque países como Rússia e Brasil aumentaram as suas
exportações de trigo e milho, a insegurança alimentar está a crescer.A
guerra na Ucrânia elevou os preços dos produtos alimentares a recordes
no ano passado e contribuiu para uma crise alimentar global também
ligada a outros conflitos, aos efeitos prolongados da pandemia da
covid-19, secas e outros fatores climáticos.
Os altos custos dos cereais necessários para alimentos básicos em
lugares como Egito, Líbano e Nigéria exacerbaram os desafios económicos e
ajudaram a empurrar milhões de pessoas para a pobreza ou insegurança
alimentar. As pessoas nos países em desenvolvimento estão a gastar mais
dinheiro para se conseguirem alimentar. As
nações mais pobres que dependem de alimentos importados com preços em
dólares também estão a gastar mais à medida que as suas moedas
enfraquecem e são forçadas também a importar mais devido a questões
climáticas. Países como Somália, Quénia, Marrocos e Tunísia estão a
lutar contra a seca.