Rui Tavares sentiu "vergonha alheia dos outros" com discurso de Joacine
21 de jan. de 2020, 10:31
— Lusa/AO Online
Em entrevista ao
Diário de Notícias/Rádio TSF, Rui Tavares disse que
“sentiu que as pessoas que estavam a ver aquilo [discurso de Joacine
Katar Moreira no qual se exaltou e falou em mentiras] estavam
incomodadas” com o partido.O IX Congresso
do Livre, que decorreu no fim de semana, ficou marcado pela eleição dos
novos órgãos e pelo adiamento da decisão relativa à retirada da
confiança política à deputada Joacine Katar Moreira.A
deputada exaltou-se e disse: “Isto é inadmissível, isto é mentira,
tenham vergonha, mentira absoluta!”, batendo no púlpito onde subiu para
reagir às considerações contidas na resolução da 42.ª Assembleia do
partido. “Naquele congresso, naquele
momento em que aquilo se estava a passar, e ainda sem ter noção de como é
que ia passar nas câmaras, saber que as pessoas que estivessem a ver
aquilo iam ter vergonha alheia pelo Livre, pelo partido e ter
consciência disso... é duro quando se fez um partido", disse Rui Tavares
em entrevista ao DN/TSF.O dirigente do
Livre considerou também que a deputada rompeu com o partido, porque
rapidamente cessou contactos, ainda antes do voto da Palestina, na
Assembleia da República.“O grupo de
contacto serve para as pessoas que fazem a gestão quotidiana do partido
estarem permanentemente em contacto umas com as outras. Portanto, não se
pode bloquear contactos por relações pessoais. O que a própria
assembleia do partido detetou é que há uma atitude de corte com os
processos internos”, referiu.Rui Tavares
lembrou que os compromissos para se exercer o mandato em nome do Livre
são a “exigência na atitude, na postura, na responsabilidade, na forma
de responder às perguntas dos eleitores, dos jornalistas e dos próprios
camaradas de partido".“Portanto, quando
não se cumpre o que está nessa resolução, é a própria pessoa que está a
prescindir da confiança que nela foi depositada. Entretanto, ocorreu
isto, não para a sociedade em geral, é verdade que as entrevistas mais
bombásticas, mais incendiárias, aquelas questões do "fui eleita sozinha"
e por aí afora, atenuaram-se a partir dessa altura, mas dentro da
assembleia as coisas continuaram a não correr bem, para ser
eufemístico”, explicou.De acordo com o
fundador do Livre, continuaram a não ser dadas respostas básicas para
que os camaradas do partido sentissem a segurança de depois a poder
defender [a sua representante].Questionado
sobre se existe quebra de confiança em Joacine Katar Moreira, Rui
Tavares sublinhou que “lamentavelmente há compromissos que não estão a
ser seguidos”.“Portanto, a partir de certa
altura, a assembleia do partido, por muito que queira preservar o
partido ou por muito que quisesse preservar umas certas aparências...
Nenhum partido, com nenhum método de seleção, sabe completamente como é
que alguém depois de eleito vai comportar-se sob a pressão da
visibilidade pública (…)”, disse.Sobre a
desilusão do partido com a deputada, o historiador salientou que “há um
erro de comportamento pós-eleitoral por parte da Joacine, de atitude em
relação aos eleitores, em relação ao partido, e essa atitude também
conta porque ela também é política”.“Tudo é
política. Uma atitude de um partido libertário, da esquerda libertária,
não pode ser uma atitude autoritária. A atitude de um partido
antipopulista não pode ser uma atitude populista”, disse.Rui
Tavares disse também que vai defender em assembleia que o partido
retire a confiança política a Joacine Katar Moreira, salientando
concordar com o grupo de contacto.“As
cedências de parte a parte significam em geral que há erros dos dois
lados. Isso significaria que chamar mentirosa à assembleia, um órgão do
partido, fazê-lo em público, e daquela maneira e com aquela
agressividade, seria equivalente a qualquer um de nós (…) ter dito:
‘Bem, uma coisa são os decibéis, outra coisa é ter dito o facto que não é
verdadeiro é X ou Y’. O que não foi feito. Dá para perceber, não só a
diferença de tom como a diferença de segurança com que se fala, com que
se alega mentiras e com que se diz que se está na posse de factos”,
disse.“Certamente, não estamos numa
situação de cedências de parte a parte; nem do ponto de vista dos factos
nem do ponto de vista político”, sublinhou.