Rui Rio, o ex-autarca austero que quer ser líder do partido
11 de out. de 2017, 17:54
— Lusa/AO online
Economista
com perfil austero, o antigo vice-presidente do PSD e secretário-geral
do partido sob a liderança de Marcelo Rebelo de Sousa avança aos 60 anos
para o seu maior desafio, por enquanto como único candidato oficial,
nas diretas marcadas para 13 de janeiro. A candidatura de Rui Rio
à liderança do PSD já esteve pré-anunciada por várias vezes, que não
concretizou para não interromper o seu mandato no Porto, bem como à
Presidência da República, em 2016, hipótese que acabou por afastar
devido ao "quadro parlamentar instável" que resultou das últimas
legislativas e a "escassez de condições" que considerava para levar por
diante uma reforma do regime. Desde então, o antigo presidente da
Câmara Municipal do Porto multiplicou-se em participações em
conferências pelo país e, desde uma entrevista que deu em novembro ao
Diário de Notícias, adivinhava-se a candidatura à liderança do partido,
que vai ser hoje concretizada às 18:30 em Aveiro. Nessa altura,
dizia que seria candidato se o partido não encontrasse uma alternativa
credível ao atual líder, Pedro Passos Coelho, que, na sequência das
autárquicas de 01 de outubro, anunciou que não se recandidataria ao
cargo. Nascido no Porto a 06 de agosto de 1957, Rui Rio ganhou
notoriedade e visibilidade nacional durante os três mandatos, entre 2001
e 2013, como presidente da autarquia portuense, mas o percurso político
do militante do PSD já tinha começado bastante antes, na Juventude
Social Democrata. Rio foi vice-presidente da Comissão Política
Nacional da JSD entre 1982 e 1984 e entre 1996 e 1997 foi
secretário-geral do PSD, quando era presidente do partido o atual
Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Nesse período, o
social-democrata travou algumas guerras internas devido ao processo de
refiliação de militantes que levou a cabo, gerando muitos anticorpos no
aparelho do partido -- chegou a propor colocar um relógio de ponto na
sede do partido para controlar as entradas dos funcionários. Marcelo
Rebelo de Sousa foi mantendo Rio no cargo, mas este acabaria por sair
pelo seu próprio pé, depois das autárquicas de 1997, em divergência com o
presidente do partido, numa relação que não voltou a ser próxima. O ex-autarca do Porto foi vice-presidente do partido com três líderes: de 2002 a 2005, com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, e mais tarde, entre 2008 e 2010, com Manuela Ferreira Leite. Estudou
no Colégio Alemão e licenciou-se em Economia pela Universidade do Porto
-- tendo sido eleito pela primeira vez presidente da Associação de
Estudantes da faculdade em 1981 --, Rio manteve sempre um percurso
profissional como economista, tendo chegado à Assembleia da República em
1991, onde foi deputado durante 10 anos. Adepto do Boavista e
praticante de vários desportos na sua juventude, opôs-se enquanto
deputado ao chamado 'totonegócio', que previa que parte das receitas do
totobola fossem entregues aos clubes de futebol, e foi um rosto quase
isolado na sua bancada a favor da interrupção voluntária da gravidez. Com
a chegada -- na altura inesperada, já que nas sondagens era dado como
derrotado face ao socialista Fernando Gomes -- à presidência na Câmara
do Porto em 2001, Rio iniciou 12 anos durante os quais foi fortemente
criticado pela falta de apoio à Cultura, tendo dossiês como o Mercado do
Bolhão, o Túnel de Ceuta, o Bairro do Aleixo e as corridas de carros na
Boavista marcado os três mandatos, sempre em coligação com o CDS-PP. O
equilíbrio e rigor das contas da autarquia e a aposta na requalificação
dos bairros do Porto foram grandes bandeiras de Rio à frente do segundo
município do país. Ao longo do seu percurso político, foram
inúmeros os conflitos e divergências com o ex-presidente da Câmara de
Gaia Luís Filipe Menezes, e apesar das pontes que partilham ambos os
concelhos foram bem mais as desavenças do que os entendimentos entre os
dois sociais-democratas. Aliás, sem apoiar expressamente Rui Moreira,
Rio fez questão de dizer que não votaria no PSD nas autárquicas de 2013,
quando Menezes se candidatou à sua sucessão no Porto. Rio
manteve também distância do presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto
da Costa, com o clube a festejar sempre os campeonatos em Gaia e não no
Porto, como até aí era habitual. No seu percurso profissional,
Rio começou por trabalhar na indústria têxtil e, na década de 80,
iniciou o seu percurso no setor bancário, no Banco Comercial Português. Depois
de ter interrompido a atividade política, voltou à banca, assumindo um
cargo não executivo no Comité de Investimentos do Millenium BCP e é
atualmente consultor da empresa de recursos humanos Boyden. Casado
e com uma filha, Rio sempre teve uma vida pessoal recatada,
conhecendo-se a educação rígida que teve e a morte do irmão quando tinha
sete anos como marcas da sua infância. Ao longo da vida foi
praticante de diversas modalidades desportivas e inclusivamente foi
federado em atletismo, tendo revelado à agência Lusa que admira na
história mundial personalidades como Gandhi e Mandela. Agnóstico,
tem como 'hobbies' as corridas de automóveis, a astronomia e a bateria,
instrumento que tocava quando integrou uma banda na sua juventude.