Rui Moreira defende que "boa parte" do programa Mais Habitação é "irrealizável"
6 de mar. de 2023, 13:10
— Lusa/AO Online
“O plano deve ser afinado e
expurgado de medidas irrealistas ou manifestamente nocivas”, afirma Rui
Moreira na participação do município do Porto na consulta pública do
programa Mais Habitação, que decorre até ao dia 13.No
documento, a que a Lusa teve acesso, Rui Moreira defende que “boa
parte” das medidas propostas é “irrealizável” e ficará “muito aquém dos
resultados pretendidos”. “Maior do que o
risco de o pacote ser pouco consequente é o de as suas medidas mais
estatizantes e centralistas terem efeitos gravosos para o problema da
habitação em Portugal”, refere, dando o exemplo da proibição de novas
licenças de Alojamento Local (AL), do arrendamento coercivo e do limite à
atualização das rendas. Considerando que
“são de saudar” medidas como o apoio às rendas e crédito, ou o reforço
dos incentivos fiscais para o arrendamento acessível, Rui Moreira diz,
no entanto, que o Estado “está a ser demasiado voluntarista ao
predispor-se a ser senhorio, fiador, credor, intermediário, cobrador e
construtor”. “Conhecidas que são as
ineficiências administrativas e as carências financeiras do Estado, não é
de crer que este tenha capacidade de tocar tantos instrumentos ao mesmo
tempo”, afirma, criticando ainda o facto de as autarquias não terem
sido auscultadas sobre o programa. “Parece-nos
igualmente insólito que, aos dias de hoje, os municípios tenham
conhecimento do plano através tão só de um genérico ‘powerpoint’ e de
declarações avulsas de responsáveis políticos à comunicação social”,
refere, defendendo que no período de consulta pública se impunha que a
informação sobre o plano “fosse já detalhada, sólida e estruturada”, e
que tal “não acontece”. Ainda assim, no
documento são elencadas várias considerações e sugestões, fruto da
audição, a 23 de fevereiro, do Conselho Municipal de Turismo e Economia.
Entre as considerações, Rui Moreira diz
ser preciso aumentar oferta de casas “em todos os segmentos”, defendendo
que a solução para a escassez e custo da habitação “não pode passar por
moderar a procura”.“Isso seria hipotecar a
capacidade de atração das cidades e o crescimento económico promovido
pelas atividades de elevado valor acrescentado, sem que o problema da
falta de habitação a preços acessíveis fosse resolvido ou sequer
mitigado. Era, perdoe-se a expressão, deitar fora o menino com a água do
banho”, refere.Em relação à habitação
pública, Rui Moreira considera que o Estado tem de diversificar os
investimentos sem “pruridos ideológicos” de alinhar estratégias com os
privados, apostar de “forma intensiva” no arrendamento acessível e
“generalizar” o direito de preferência, instrumento que defende que seja
usado com "mais frequência" para garantir "transparência do mercado",
mas também aumentar o 'stock' de casas e acudir a inquilinos em situação
de fragilidade. O autarca defende ainda
que a melhor forma de “reduzir os fogos vagos com propósitos
especulativos” passa, não por colocar casas no mercado pela “usurpação
do uso de propriedade privada”, mas pelo agravamento fiscal, aumentando o
IMT e o IMI, imposto que, diz, poderia ser aplicado sobre os terrenos,
penalizando os baldios das cidades.Entre
as várias sugestões, o autarca propõe que os municípios exerçam
competências de intermediação entre os proprietários dos imóveis e os
inquilinos, e que desenvolvam iniciativas de apoio à construção no
modelo ‘build to rent’.Quanto ao AL,
Moreira considera “drástica e intempestiva” a proibição de novas
licenças, defendendo que as residências universitárias poderiam ser um
“ótimo meio para reduzir a pressão” sobre a habitação, uma vez que nos
meses de verão estes imóveis poderiam “reforçar a oferta turística”.
O autarca diz também ser necessário rever o funcionamento dos vistos
‘gold’, defendendo que, “em vez da sua pura e simples eliminação, seria
mais útil orientar a aprovação dos vistos ‘gold’ para investimentos que
promovessem um número mínimo de alojamentos destinados a arrendamento
acessível”.O programa Mais Habitação foi
aprovado em Conselho de Ministros e encontra-se em discussão pública até
ao dia 13. As propostas voltarão a Conselho de Ministros para aprovação
final, em 16 de março, e depois algumas medidas ainda terão de passar
pela Assembleia da República.