RSI cobre apenas 40% da população no limiar da pobreza
Hoje 12:52
— Lusa/AO Online
“O apoio passou de cobrir
entre 60% a 80% do limiar de pobreza em 2010 para cerca de 40% em 2023”,
de acordo com o estudo “A Erosão do Regime de Proteção do Rendimento
Mínimo Português”, em que se denuncia “um enfraquecimento estrutural do
principal instrumento de combate à exclusão social” em Portugal. Os
investigadores concluíram que o Rendimento Social de Inserção (RSI)
perdeu eficácia, devido a várias alterações legislativas e períodos de
austeridade: “Nunca recuperou a capacidade de assegurar um nível de vida
digno”.O estudo indica que o RSI deixou há anos de acompanhar o aumento do custo de vida e dos salários. A
investigação foi conduzida por Luís Manso, Renato Miguel Carmo, Maria
Clara Oliveira e Jorge Caleiras e será apresentada numa conferência que
decorre hoje e na quinta-feira em Lisboa.“Consideramos
importante produzir conhecimento assente em evidências científicas
sobre uma prestação que tem sido alvo de consecutivas mistificações
políticas e ideológicas”, afirma o diretor do Observatório de
Desigualdades do ISCTE, Renato do Carmo, citado no comunicado que
acompanha a divulgação do estudo.As
conclusões apontam para a necessidade de uma reformulação do RSI para
restabelecer a função de “rede de segurança social” e ajustá-lo à
realidade atual do mercado de trabalho e dos preços.Entre
as recomendações estão a recuperação da ligação ao salário mínimo
nacional e a criação de critérios de cálculo “mais sensíveis à
composição familiar” e às variações do custo de vida.“As
famílias com crianças beneficiam de alguma compensação, através de
prestações complementares, mas a prestação recebida pelos pais continua
abaixo do limiar da pobreza”, lê-se no documento.No
estudo assinala-se que a substituição do referencial do salário mínimo
pelo Indexante dos Apoios Sociais (IAS), a introdução de critérios mais
restritivos e a redefinição do conceito de rendimento tiveram efeitos
cumulativos na redução do apoio.“Se
juntarmos a isto o facto de o número de beneficiários de RSI ser dos
mais baixos de sempre, estamos perante uma prestação que erodiu muito na
sua capacidade de responder às necessidades básicas das pessoas que
vivem em situação de pobreza”, defende Renato do Carmo.