Rótulo de favorito a medalha não incomoda campeão mundial Iúri Leitão
Paris2024
12 de jul. de 2024, 12:51
— Lusa/AO Online
“Entendo
que as pessoas tenham essa expectativa, queremos sempre encontrar os
novos heróis nacionais, mas eu não vejo as coisas assim. Pelo que
deduzo, vai ser uma prova muito mais exigente do que qualquer uma que
tenha feito. Não é por ser campeão do mundo que tenho de trazer um
grande resultado. Vou tentar divertir-me e trazer o melhor resultado
possível”, explica o ciclista de 26 anos, em entrevista à Lusa no
Velódromo de Sangalhos.Na ‘casa’ do
ciclismo de pista português, o campeão do Mundo do omnium em 2023, a
correr na estrada pela espanhola Caja Rural, garante querer “fazer o
melhor possível” e aplicar a aprendizagem que traz “para cometer o menor
número de erros possível”.No omnium,
confessa, “gostava de trazer um resultado nos oito melhores”, competindo
também no madison, corrida de duplas, com Rui Oliveira. “Sairia
muito realizado, feliz, por estar dentro desse lote tão restrito. Vai
ser um orgulho enorme lá estar, e se conseguir esse resultado, seria
estupendo”, afirma.Catapultado para outro
nível de fama e reconhecimento, na rua e no pelotão, devido ao ouro no
Mundial de Glasgow, encara a pressão com a serenidade de manter o
caminho, sem desvios.“Vejo as coisas da
seguinte forma: se as pessoas esperam que traga um bom resultado, é
porque tenho dado motivos para isso, com resultados de muita
importância, como ser campeão do mundo no ano passado”, refere.O
título, diz, “não mudou nada”, e não vê “as coisas pelo lado da
pressão, mas como oportunidades”, a cada chamada à seleção, fazendo “o
máximo para valer a pena”.“Nem sempre faço
grandes resultados, o desporto é assim mesmo, mas se sair da pista de
cabeça erguida, por ter feito tudo o que podia… o selecionador nunca nos
exigiu resultados, exige trabalho e foco, para aplicar o que aprendemos
aqui”, acrescenta.Trabalha em Sangalhos,
na sua vida de ‘pistard’, no seio de uma seleção muito unida e que
inclui Maria Martins, que voltará aos Jogos Olímpicos depois do
histórico sétimo lugar no omnium em Tóquio2020, mas também Ivo Oliveira,
João Matias e Daniela Campos (convocada, mas na estrada), nomes de proa
do esforço nacional nesta disciplina.O
grupo muito unido - até com uma página alimentada pelos próprios na rede
social Instagram - tem o hábito de competir junto e preparar-se junto,
uma “união e partilha de expectativas, objetivos, treino e sofrimento
que é muito importante”.“As pessoas estão
habituadas a ver as glórias na televisão, o que conquistamos, mas há
muita coisa negativa atrás. Passamos por muitas dificuldades, dias maus,
quedas, lesões, simplesmente porque as coisas não saem ou não estamos a
render. Psicologicamente, abala, e é bom ter essa partilha”, afirma.Se
todos contribuíram para os pontos do ranking de nações, só Leitão e Rui
Oliveira terão a ‘honra’ de estar nos Jogos. “Todos mereciam ir. Vai
ser difícil, vou fazer o melhor possível para que, em casa, sintam
orgulho”, atira o sprinter, de imediato.No
ciclo anterior, para Tóquio2020, esteve no “balde de água fria muito
grande”, esse “dia muito triste”, que foi falhar a qualificação por um
lugar, então como ‘caçula’ de um grupo com muitos azares, de quedas a
fraturas, que afetou o amealhar dos pontos necessários.Desta
feita, prepararam-se melhor, com menos azares, e conseguiram lá chegar
em duas das vertentes da pista, alicerçados num título mundial que,
insiste, pouco mudou na sua vida.Na
preparação, “não mudou nada”. “Gosto de pensar que se as coisas
resultaram até agora e fui campeão do mundo, é preciso é continuar e
aperfeiçoar. Não gosto de inventar”, comenta.Com
três vitórias na estrada em 2024 pela Caja Rural, o “jogo de cintura a
três”, entre os espanhóis, o próprio corredor e a Federação Portuguesa
de Ciclismo, chegou a bom porto para poder conciliar as duas, ainda que
tenha tido em cima da mesa dedicar-se só à pista, opção colocada de
parte pela “paixão pelo ciclismo” e pela necessidade de ter outra
rodagem e, no campo pragmático, outra ‘almofada’ financeira.“Tem
sido pacífico. Quando entrei para a equipa, era novo, e foi difícil
mostrar do que era capaz. A equipa entendeu que tinha objetivos muito
claros, e bem definidos na pista. Compreenderam e chegámos a acordo.
Desde que não falhe com a equipa, e tenho três vitórias este ano…”,
avalia.No omnium, concurso com quatro
corridas distintas no mesmo dia, e que acontece em 08 de agosto, dois
dias antes do madison, antevê forte concorrência, desde a Grã-Bretanha,
que tem opções como o campeão olímpico Matthew Walls, a França, de
Benjamin Thomas, e a Nova Zelândia, do ‘vice’ olímpico Campbell Stewart.No
madison, e depois de um foco numa “boa recuperação”, a chave estará no
sacrifício em prol do colega, e deste por si, sendo mais difícil avançar
com candidatos.O minhoto de 26 anos
mostra-se ainda entusiasmado com a possibilidade de desfrutar da
experiência de uns Jogos Olímpicos, tendo já falado com quem já a teve,
não só na pista mas noutras modalidades.Elege
a canoagem, “muito forte” no Minho, como uma das modalidades que
acompanha. “São os meus ídolos de infância, de os ver em Londres2012,
Rio2016, Tóquio2020. Depois, a natação e o atletismo”, afirma.De resto, diz logo de seguida, “é um orgulho ver um minhoto brilhar”.