Romarias quaresmais em São Miguel regressam após restrições da pandemia
16 de fev. de 2023, 17:35
— Lusa
“Alguns
ranchos estão a ter dificuldade, outros já têm o plano praticamente
concluído. Já apelamos e fizemos um trabalho prévio, quando reunimos, em
novembro de 2022, especificamente para tratar deste assunto. As pessoas
já estão sensibilizadas para acolher romeiros. Mesmo assim, estão a ser
preparadas outras alternativas”, afirmou hoje o presidente do Movimento
de Romeiros de São Miguel, João Carlos Leite, em declarações à agência
Lusa.Os romeiros de São Miguel vão percorrer as estradas de São Miguel entre 25 de fevereiro a 06 de abril, Trajando
um xaile, lenço, bordão e terço, os romeiros de São Miguel fazem um
percurso de oração, fé e reflexão, entoando cânticos e rezando.Os
ranchos são organizados e devem cumprir um percurso sempre com mar pela
esquerda, passando pelo maior número possível de igrejas e ermidas de
S. Miguel.As tradicionais romarias
quaresmais são uma das principais manifestações de religiosidade popular
da ilha e nos ranchos só podem participar homens, mas surgiram,
entretanto, romarias de mulheres.Durante o
período em que estão na estrada, os romeiros dormem em casas
particulares ou em salões paroquiais, devendo iniciar a caminhada antes
do amanhecer e entrar nas localidades logo a seguir ao pôr-do-sol.Devido
à pandemia, a última vez que os romeiros saíram em romaria foi na
Quaresma de 2020, mas apenas os primeiros ranchos, devido às restrições
entretanto impostas pela covid-19.O presidente do Movimento de Romeiros de São Miguel sublinhou que se trata de "um recomeço"."Também o recomeçar da nossa vida normal não foi fácil, isto é transversal a todas as atividades”, assinalou João Carlos Leite.Este ano, percorrem as estradas da ilha 55 grupos de romeiros, dos quais dois oriundos de Toronto, no Canadá.Os
primeiros ranchos vão sair para a estrada no fim de semana a seguir à
Quarta-feira de Cinzas, este ano a 25 de fevereiro, e os últimos vão
regressar às suas localidades na Quinta-feira Santa, 06 de abril.A caminhada de cada rancho dura uma semana.A média de elementos de cada grupo vai variar "entre os 45 e 50 homens", em cada rancho, segundo indicou João Carlos Leite.“Existem
pessoas que estão ansiosas por começar a acolher os romeiros. Há quem
não tenha disponibilidade de espaço e faça um esforço grande”, sublinhou
o responsável.O responsável vincou que é
parte integrante da "Quaresma, da cultura, da identidade, inclusivamente
do cristianismo, acolher um peregrino"."Há
pessoas que, durante o tempo de pandemia, o que me diziam é que a minha
Quaresma nunca mais foi igual, porque já não acolho romeiros", contou.Ainda
assim, assinalou que a pandemia motivou "muitos receios nas pessoas" e
poderão não existir tantas casas particulares disponíveis para a
pernoita dos romeiros."Infelizmente a
pandemia ainda existe e algumas pessoas têm receio. Na eventualidade de
surgirem dificuldades em algumas localidades, é preciso criar planos B
em termos de acolhimento dos romeiros e a necessidade de os responsáveis
locais conseguirem um espaço para a pernoita", referiu.O responsável salientou à Lusa que será "uma Quaresma muito semelhante aquela que decorreu antes da pandemia".O
presidente do Movimento de Romeiros de São Miguel, João Carlos Leite,
explicou que as romarias de São Miguel completaram "em 2022 meio
milénio", destacando que existem "romeiros que já fizeram mais de 60
romarias".Tendo em conta a importância
desta tradição, o Governo regional já determinou, em janeiro, que ficam
dispensados de serviço os trabalhadores da Administração Pública
Regional dos Açores que participem nas romarias, que se realizem nas
ilhas Graciosa, São Miguel e Terceira, durante o período da Quaresma,
sem prejuízo de quaisquer diretos e regalias, desde que fique assegurado
o normal funcionamento dos serviços a que pertençam.