Risco de problemas de saúde mental e 'burnout' é maior nos trabalhadores da saúde
9 de jul. de 2024, 10:53
— Lusa/AO Online
Os
dados constam de um estudo que vai ser apresentado na quarta-feira na
Ordem dos Médicos e que analisou mais de 2.100 trabalhadores da área da
Saúde, entre enfermeiros, médicos, assistentes operacionais, técnicos
superiores, farmacêuticos, psicólogos, administrativos e gestores.A
coordenadora deste trabalho, Tânia Gaspar, que lidera o LABPATS,
recorda que a situação se tinha agravado após a pandemia, depois
estabilizou, mas não se conseguiu ainda recuperar para valores
pré-covid-19.Tânia Gaspar, que já tinha
liderado o estudo nacional sobre ambientes de trabalho saudáveis em
diversas áreas laborais – divulgado em maio – diz que os valores
recolhidos “são preocupantes”.“Precisamos
de ação urgente. Aquelas pessoas que achavam que depois da pandemia
podiam não fazer nada e que as coisas iam por si voltar ao normal, está
provado que não está a acontecer”, alertou a especialista, lembrando que
os profissionais começam a “desligar”, que “o ‘vestir a camisola’ tem
diminuído” e que o setor privado é cada vez mais concorrencial, pois
atualmente investe muito na possibilidade de investigação.Doutorada
em gestão de organizações de saúde, Tânia Gaspar estudou as Parcerias
Publico Privadas (PPP), os hospitais privados e os públicos e recorda
que “as PPP tinham o melhor de dois mundos porque não tinham que ir a
arranjar clientes, (…) os clientes eram fixos, mas realmente o modelo de
garantia da qualidade era muito mais robusto, eficaz e dava outras
condições”.“Temos mesmo de repensar tudo e
ter uma ação urgente nesta área pois os profissionais da saúde, em
comparação com os outros profissionais, estão em maior risco”, disse.Além
de atribuir um risco elevado à dimensão da Saúde Mental, o estudo
conclui que são os profissionais das gerações mais novas (Z e Y, com
idades até aos 40/45 anos) que revelam menos envolvimento no trabalho e
menor perceção de desempenho. São igualmente os da geração Z (até aos 34
anos) que têm piores indicadores de saúde mental.“Um
profissional de saúde que não está bem vai afetar a sua ação junto
doente e as situações podem ser mesmo muito graves”, recorda a
investigadora.Por outro lado, os
profissionais das gerações mais velhas (geração X e 'baby boom', ou
seja, acima dos 44 anos) têm uma perceção mais positiva do envolvimento
da comunidade.“Notamos que os alunos do
ensino superior também têm dificuldades na área da saúde mental e esta
área da saúde acaba por ter um grande investimento, uma grande
sobrecarga. Estes jovens já vêm da sua formação bastante fragilizados e
depois entram no mercado de trabalho e acabam por revelar mais
dificuldades”, explica.Tânia Gaspar diz
que, relativamente às expectativas dos jovens em relação ao mundo do
trabalho, “o que está a acontecer é um mecanismo de defesa. Abre-se a
porta do futuro a estes jovens e realmente é tudo uma incerteza, uma
falta de felicidade, de bem-estar… é só coisas negativas. E aí eles
pensam: ‘não vou investir a minha energia, a minha expectativa, numa
coisa que parece tão negativa’”.A investigadora considera ainda que os jovens que não são da área da saúde estão a conseguir lidar melhor com esta questão.“Os
jovens valorizam mais a conciliação da vida profissional com o
bem-estar e com a sua vida pessoal. Aqui, na área da saúde,
provavelmente pela exigência que tem a profissão, eles não conseguem
fazer isso”, alertou.A especialista chama
ainda a atenção para outro fator agravante: mais de um em cada quatro
(25,4%) profissionais de saúde diz-se alvo de ameaças ou outra forma de
abuso físico e psicológico.“O assédio
laboral é maior nos profissionais de saúde do que nos outros
profissionais, onde tínhamos valores de 19%”, disse a investigadora,
alertando igualmente para a urgência de tomar medidas nesta área.“Se eu fosse ministra da Saúde estaria realmente preocupada”, concluiu.