Risco de escassez de alimentos no Reino Unido pode resultar em racionamento e motins
Covid 19
25 de mar. de 2020, 11:41
— Lusa/AO Online
“Temos de recordar que o Reino Unido, como a
maioria das outras economias desenvolvidas, não produz a maior parte dos
alimentos que consome. O Reino Unido importa 50% dos seus alimentos. Se
houver uma interrupção, não dentro do próprio Reino Unido, mas dentro
das cadeias de abastecimento internacionais, vai haver escassez”, avisou
hoje Elizabeth Braw, investigadora do Instituto Real de Serviços Unidos
(RUSI). O Governo tem apelado nos últimos
dias aos britânicos para que “sejam responsáveis” na compra de
alimentos nos supermercados, procurando mitigar o pânico no consumo que
resultou em prateleiras vazias e filas à porta das lojas. O
setor de distribuição reagiu, limitando o número de unidades que cada
cliente pode comprar de certos bens essenciais, como massas, arroz ou
papel higiénico, e procurou tranquilizar a população, garantindo que
existem reservas suficientes nos armazéns. Em
três semanas, segundo o Consórcio de Retalho Britânico, as vendas
renderam mil milhões de libras (1,1 mil milhões de euros), tendo o
ministro para o Ambiente, Agricultura e Alimentação, George Eustice,
adiantado que algumas fábricas de comida aumentaram a produção em 50% Porém,
numa teleconferência organizada hoje pelo RUSI, Braw, especialista em
estratégias como governos, empresas e sociedade civil poderem trabalhar
juntos para fortalecer a defesa dos países contra ameaças, recordou que
este não é um problema que o governo britânico possa resolver porque as
cadeias de abastecimento são operações comerciais internacionais que
podem ser perturbadas pela crise. O
resultado pode ser a imposição de um racionamento alimentar, recordando
uma conversa que teve há uns anos com um deputado escandinavo sobre um
cenário de crise e escassez global. “Talvez
tenhamos que verificar qual é o número de calorias que um adulto ou um
adulto criança pode esperar comer. E talvez deva haver restrições às
compras de alimentos nesse sentido, em vez de ser apenas dois pacotes de
massa”, sugeriu.Também Jack Watling,
especialista em conflitos terrestres, alertou para o risco agitação
civil e motins mesmo antes de se chegar a uma situação de escassez de
alimentos se a população tiver essa perceção. “Uma
das coisas críticas em termos de prevenção de pequenas alterações na
gestão da cadeia de abastecimento, se, por alguns dias pode parecer que
não há comida, é ter uma mensagem realmente clara, como explicar que nos
próximos dias vai acontecer isto por certos motivos”, sugeriu. Se
as autoridades não conseguirem explicar estes problemas, acrescentou,
"é aí que a agitação civil pode rapidamente ficar fora de controlo”. O
setor retalhista é uma das exceções feitas pelo governo para continuar a
trabalhar durante um período de confinamento obrigatório, em que os
britânicos devem apenas sair de casa para comprar bens essenciais, como
comida e medicamentos, fazer exercício, ou ajudar pessoas vulneráveis. Funcionários
dos supermercados foram considerados trabalhadores essenciais, tal como
médicos, enfermeiros e polícias, podendo os filhos continuar a ir às
escolas públicas, encerradas para a maioria dos alunos, e os limites aos
horários dos motoristas de entregas foram levantados. As
leis da concorrência foram também aliviadas temporariamente no Reino
Unido para permitir que os supermercados colaborem operacionalmente para
“alimentar o país”, podendo partilhar informações sobre os níveis de
reservas, colaborar para manter loja abertas e partilhar veículos para o
transporte e distribuição e até em termos de trabalhadores.O
balanço de terça-feira feito pelo Ministério da Saúde britânico
confirmou 422 óbitos entre 8.077 casos positivos de pessoas infetadas
com a covid-19, identificadas após testes a 90.436 pessoas no Reino
Unido.O novo coronavírus, responsável pela
pandemia da covid-19, já infetou mais de 400.000 pessoas em todo o
mundo, das quais morreram cerca de 18.000.Depois
de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o
que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação
de pandemia.O continente europeu é aquele
onde está a surgir atualmente o maior número de casos, e a Itália é o
país do mundo com mais vítimas mortais, com 6.820 mortos em 69.176
casos.