Rio recandidata-se à liderança depois de primeiro mandato marcado por tensões internas
21 de out. de 2019, 18:07
— Lusa/AO online
Duas semanas depois das eleições
legislativas, Rui Rio anunciou publicamente o resultado de uma reflexão
iniciada na noite eleitoral de 06 de outubro, em que o PSD obteve 27,7%
dos votos (correspondentes a 79 deputados), contra 36,3% do PS (108
deputados).Em maio, o PSD tinha perdido as
europeias com menos de 22% - pior resultado de sempre em eleições
nacionais – e, em 22 de setembro, venceu na Madeira, embora perdendo a
maioria absoluta, tendo formalizado, entretanto, um acordo de Governo
Regional com o CDS-PP.Nos últimos meses e
durante a campanha, o líder social-democrata fez depender a sua
continuidade no cargo não apenas dos resultados, mas, sobretudo, da
capacidade de ser ou não “útil ou ao país”.Por
várias vezes, Rio salientou que só voltou a assumir um cargo de
protagonismo na vida política para poder contribuir para as reformas que
entende serem essenciais ao país e que só são possíveis com acordos
partidários alargados, apontando quatro exemplos: sistema político,
segurança social, descentralização e justiça.Aliás,
no final de uma audiência com o Presidente da República, dois dias
depois das eleições, o líder do PSD disse temer que pudesse ser firmado
um acordo entre BE e PS que inviabilizasse a possibilidade de haver
entendimentos no futuro sobre essas matérias estruturais, o que acabou
por não se concretizar.Na noite eleitoral,
Rio assumiu que o PSD não alcançou o principal objetivo – vencer as
legislativas – mas defendeu que não se tratou de “uma grande derrota”,
explicando o resultado pela conjuntura económica internacional favorável
ao Governo, pelo surgimento de novos partidos à direita, mas também
pelas sondagens que terão “desmotivado” os eleitores sociais-democratas e
pela ação dos críticos internos. Rio
considerou ainda ter enfrentado, ao longo do seu mandato, “uma
instabilidade de uma dimensão nunca antes vista na história do PSD e
exclusivamente motivada por ambições pessoais”.Desde
06 de outubro, foram várias as vozes a contestar a liderança de Rui
Rio, entre elas a do antigo líder parlamentar Luís Montenegro, que, três
dias depois das legislativas, assumiu que será candidato às próximas
diretas – previstas para janeiro – e disse que gostaria muito que o
atual líder também concorresse.Montenegro
foi o principal rosto da oposição interna que, nos últimos dois anos,
não poupou a atual direção, culminando em janeiro num desafio à
convocação de diretas antecipadas. O repto foi recusado por Rui Rio que
levou a votos uma moção de confiança à sua direção, aprovada com 60% dos
votos em Conselho Nacional.Na
sexta-feira, também o antigo presidente da distrital de Lisboa do PSD
Miguel Pinto Luz anunciou que participará na disputa da liderança do
partido.No final de 2017, Rio
apresentou-se como candidato à liderança do PSD prometendo “fazer
diferente” e “um banho de ética” na política, e quando derrotou Pedro
Santana Lopes nas diretas avisou que o PSD “não foi fundado para ser um
clube de amigos”.Depois de ter prometido
“uma oposição firme, mas não demagógica” ao Governo, Rui Rio assinou em
abril do ano passado dois acordos com o executivo: um sobre os
princípios gerais do processo de descentralização e outro em que PSD e o
executivo concordam que Portugal não pode perder fundos no próximo
quadro comunitário.Perante críticas
internas de que o partido estaria a ser “uma muleta do Governo”, Rio
contrapôs que quando os entendimentos “são bons para o país, são bons
para o PSD”.Nascido no Porto a 06 de
agosto de 1957, 62 anos, Rui Rio ganhou visibilidade como presidente da
Câmara Municipal do Porto durante três mandatos, entre 2001 e 2013, mas o
percurso político do militante do PSD já tinha começado bastante antes,
na Juventude Social Democrata.Rio foi
vice-presidente da Comissão Política Nacional da JSD entre 1982 e 1984 e
entre 1996 e 1997 foi secretário-geral do PSD, quando era presidente do
partido o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.Nesse
período, o social-democrata travou algumas guerras internas devido ao
processo de refiliação de militantes que levou a cabo, gerando muitos
anticorpos no aparelho do partido – chegou a propor colocar um relógio
de ponto na sede do partido para controlar as entradas dos funcionários.Marcelo
Rebelo de Sousa foi mantendo Rio no cargo, mas este acabaria por sair
pelo seu próprio pé, depois das autárquicas de 1997, em divergência com o
presidente do partido.O ex-autarca do
Porto foi vice-presidente do partido com três líderes: de 2002 a 2005,
com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, e mais tarde, entre 2008 e
2010, com Manuela Ferreira Leite.Estudou
no Colégio Alemão e licenciou-se em Economia pela Universidade do Porto –
tendo sido eleito pela primeira vez presidente da Associação de
Estudantes da faculdade em 1981 –, e manteve sempre um percurso
profissional como economista, tendo chegado à Assembleia da República em
1991, onde foi deputado durante 10 anos. Depois
de ter saído da autarquia do Porto, voltou à banca, assumindo um cargo
não executivo no Comité de Investimentos do Millenium BCP e foi
consultor da empresa de recursos humanos Boyden até vencer a liderança
do PSD.