"Resposta devia ter sido programada com setor social e privado"
Covid-19
14 de jan. de 2021, 16:21
— Lusa/AO Online
“Já
devia ter havido uma decisão nesse sentido, usando, se necessário
recurso humanos do SNS”, disse à Lusa Miguel Guimarães, referindo-se a
médicos de algumas especialidades que “não faz sentido” estarem em
medicina intensiva.O responsável falava a
propósito de um despacho que a ministra da Saúde enviou aos hospitais
para suspenderem a atividade não urgente e proceder ao adiamento da
atividade cirúrgica programada de prioridade normal ou prioritária,
desde que não implique risco para o doente.“O
problema é ter cuidados intensivos, mas não é só para doentes covid. A
ideia de que temos de tratar os doentes covid e depois tratamos os
outros é muito grave. Os doentes têm de merecer todos respeito”, disse
Miguel Guimarães, sublinhando: “A gravidade das doenças e variável, mas
há outras doenças não covid que são mais graves do que a covid”.Quantos
aos cuidados intensivos e aos internamentos hospitalares, “se estiverem
só disponíveis para doentes covid, o impacto na mortalidade nos doentes
não-covid vai ser muitíssimo grande”.O
Ministério da Saúde veio esclarecer que o despacho não se aplicava ao
Instituto Português de Oncologia, mas Miguel Guimarães recorda: “A maior
parte dos doentes oncológicos são tratados fora do IPO, são tratados em
Santa Maria, no S. João, em S. José, em Coimbra.”“A
ministra já sabia que isto ia acontecer e devia ter planeado e
organizado a resposta, englobando o todo sistema de saúde, obviamente
também o setor privado e social”, onde a “capacidade de internamento
social e alguma na área dos cuidados intensivos, sobretudo em termos de
capital humano, é muito significativa”, afirmou.O bastonário disse ainda que, se esta resposta tivesse sido organizada atempadamente, “as coisas estariam mais tranquilas”.“Havia
sempre falhas, havia doentes que iam ficar para trás, mas da maneira
que o despacho está feito o número de doentes que vai ficar para trás
com doenças provavelmente mais graves do que a Covid-19 e muito grande”.Miguel
Guimarães diz ainda que, apesar de o despacho prever o não adiamento de
doentes que possam agravar prognóstico, a situação não é fácil de
resolver: “Se eu tiver um doente que vai ser operado a um tumor na
bexiga e se eu o adiar dois, três ou quatro meses, não posso garantir,
porque não sei, qual é o impacto negativo que isto vai ter na vida do
doente, inclusivamente se não vai desenvolver metastização para outros
órgãos e a doença torna-se incurável”.“Aí, o prognóstico passa a ser muitíssimo mais grave”, acrescentou.O
bastonário defende que deveria haver mais equilíbrio no tratamento dos
doentes e que as medidas de confinamento até aqui deviam ter sido mais
apertadas: “Com meias medidas, nem combatemos a pandemia, nem salvamos a
economia. A urgência principal é a saúde e só recuperando a saúde
podemos salvar a economia”.Além do
diferimento da atividade cirúrgica programada de prioridade normal ou
prioritária, o despacho enviado na quarta-feira para os hospitais, que
produz efeitos até 31 de janeiro 2021, diz que os hospitais do Serviço
Nacional de Saúde devem “suspender a atividade assistencial programada
não urgente que possa reverter em reforço de cuidados ao doente crítico,
desde que tal suspensão, pela sua natureza ou prioridade clínica, não
implique risco de vida para os utentes, limitação grave do seu
prognóstico e/ou limitação de acesso a tratamentos periódicos ou de
vigilância, designadamente no âmbito do acompanhamento da gravidez,
exacerbação das doenças crónicas ou outros”.Determina
ainda a alocação de meios humanos para a Medicina Intensiva, de modo a
maximizar a capacidade de resposta nesta área, em conformidade com a
suspensão e diferimento de atividade assistencial efetuada, mediante
proposta da CARNMI e sempre em articulação com a direção clínica de cada
unidade”.