Representante da República pede diálogo sobre posição dos Açores sobre mar
10 de jun. de 2024, 18:45
— Lusa/AO Online
“Tendo
em conta que são os Açores que dão verdadeiramente uma dimensão
atlântica a Portugal, a sua posição nunca pode ser desconsiderada,
secundarizada ou supletiva ou olhada com desconfiança. Assim deve ser no
plano interno, na definição do quadro legislativo de repartição de
atribuições e competências nacionais e regionais. Assim deve ser
igualmente no plano externo, europeu e internacional”, afirmou, nas
comemorações do 10 de junho, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira.Este
ano, as celebrações do Dia de Portugal nos Açores tiveram como tema o
mar, que, segundo Pedro Catarino, vai “determinar o futuro, o nível de
prosperidade e o lugar e a relevância que a região terá no mundo”.O
representante da República para os Açores salientou que “a Constituição
tem uma visão descentralizada e descentralizadora do domínio público” e
que o Estatuto Político-Administrativo dos Açores estabelece o
“princípio fundamental da gestão partilhada” do mar, mas reconheceu que
não foi possível, até ao momento “definir um quadro normativo estável e
com o qual ambas as partes – a República e a Região – se identifiquem
plenamente”.“Não nos podemos dar ao luxo
de adiar mais a definição legislativa de um ponto de equilíbrio, tanto
mais que está pendente um importante alargamento e aprofundamento do
Parque Marítimo dos Açores, com a instituição da maior rede de áreas
marinhas protegidas de todo o Atlântico Norte”, apontou.Para
Pedro Catarino “os termos de uma gestão partilhada não podem ser
definidos unilateralmente apenas por uma das partes” e “a definição das
políticas do mar requer canais institucionais específicos de comunicação
e consulta entre ambas as partes”.“A
existência de uma cultura de diálogo e consulta entre a República e a
região só pode reforçar a nossa capacidade de ação interna e a nossa
posição no quadro da União Europeia e da ONU, com reflexos positivos nos
processos negociais em curso e, em muito especial, no processo de
alargamento da Plataforma Continental portuguesa – para o qual se espera
uma deliberação favorável, num futuro próximo”, defendeu.“Quanto
maior for o papel dos Açores e quanto mais for reconhecida a
centralidade da Região e o seu interesse direto em relação ao Atlântico
Norte, mais sairá beneficiado e fortalecido o nosso país”, reforçou.Pedro
Catarino destacou a posição geoestratégica da região, alegando que “com
as tensões emergentes dos países ocidentais com a Rússia e com a
China”, os Açores “voltam a assumir grande relevância estratégica,
fundamental para que o Atlântico Norte possa continuar a ser uma zona de
paz e de segurança”.Considerou
“fundamental reforçar a aposta na investigação científica dos recursos
marinhos” e defendeu que “não há saída para o desafio ambiental que não
passe pelo mar, pela preservação dos seus ecossistemas e pela exploração
sustentável dos seus recursos”.Por outro
lado, realçou que a economia azul é um dos setores “com maior potencial
de crescimento” e que “muitos benefícios pode trazer para os Açores e
para Portugal”.Este ano, o Presidente da
República decidiu condecorar com o grau de Comendador da Ordem do Mérito
três personalidades dos Açores ligadas ao mar: o biólogo marinho João
Pedro Barreiros, o fotógrafo subaquático Nuno Sá e, a título póstumo,
Serge Viallelle, pioneiro na observação de cetáceos no arquipélago.As
comemorações incluem ainda um painel sobre “Os Açores e o Mar”,
presidido pelo almirante António Silva Ribeiro, que integrou ainda o
pró-reitor da Universidade dos Açores João Gonçalves, o professor da
Faculdade de Direito da Universidade Católica Armando Rocha e a gestora
de projetos da Fundação Oceano Azul Sílvia Tavares.