'Rent-a-car' açorianas têm mais volume de negócios mas menos rentabilidade
16 de set. de 2019, 08:37
— Lusa/AO Online
Os dados comprovam o que já se esperava: a
liberalização do espaço aéreo açoriano, em 2015, levou a um aumento
exponencial do turismo da região, que atingiu, nesse mesmo ano, o
primeiro milhão de passageiros desembarcados. As
estatísticas mais recentes, do ano passado, mostram um crescimento
anual de 20% desde então, com uma evolução acumulada de 72%, que
contraria a taxa acumulada de -4,8% do período entre 2007 e 2013, aponta
o Serviço Regional de Estatística.Com 48
anos de funcionamento, a Ilha Verde é a maior e mais antiga ‘rent-a-car’
dos Açores, operando em todas as ilhas. Para dar resposta ao aumento da
procura, Luís Rego, administrador da empresa, adianta que sentiu
necessidade de aumentar a frota. “O maior
crescimento que se deu foi, realmente, com a abertura do espaço aéreo.
Os indicadores, que se anunciavam de crescimento, eram indicadores acima
da média da Europa, a dois dígitos. Não havia ninguém na Europa a
crescer a dois dígitos”, explicou o empresário à Lusa.Apesar
do crescimento, a empresa, que representa a Europcar e a Sixt em todas
as ilhas da região, exceto São Miguel, e a Avis nas nove ilhas, viu-se
obrigada a adaptar-se ao “impacto violentíssimo” que foi “o
aparecimento, de um ano para o outro, de cinco empresas multinacionais”.Atualmente,
“há uma oferta excessiva para a procura”, considerou o responsável, que
admite que no verão podia “reduzir entre 10% a 20% da frota, mas, no
inverno, essa necessidade de redução é de quase 90%”.A
pressão da concorrência, mas também a “pressão no preço”, imposta pelo
surgimento de operadores com filosofia ‘low-cost’ (baixo custo), fez
baixar a rentabilidade a uma taxa de 30% ao ano, nos últimos quatro
anos, apesar do aumento do volume de negócio: “Nós, com mais, estamos a
ter menos”, concretizou Luís Rego.O
problema é comum. Raquel Franco, sócia-gerente da Autatlantis, confessa
que teve que “repensar a estratégia” da empresa que o seu pai fundou, em
1988, devido à chegada dos novos concorrentes, que “têm uma rede
internacional”, mas também ao “fenómeno do preço”.“Vê-se
a prática de preços, principalmente no inverno – época baixa -, são
preços muito, muito reduzidos, que depois fazem com que a rentabilidade
seja posta em causa. Acho que isso é consensual – a rentabilidade das
‘rent-a-cars’ foi posta em causa”, afirmou.Sem
concretizar com números, a responsável pela empresa, que também está
presente nas nove ilhas dos Açores, explicou que o crescimento não é
igual em todas as ilhas e que há ilhas onde a operação chega a ser
deficitária, apontando Santa Maria como “a ilha mais fustigada”.Ainda assim, considerou que faz parte da “responsabilidade social” da empresa estar presente em todas as ilhas dos Açores.A
visão é partilhada por Luís Rego, que lidera cerca de 150 colaboradores
na ‘rent-a-car’ e 300 no grupo, incluindo uma escola de condução,
stands e oficinas. Considera que essa responsabilidade é “a diferença de
uma empresa da região para uma empresa multinacional, que vem de fora,
que não tem qualquer responsabilidade nem compromisso com a região”.A
par da entrada das multinacionais, o mercado foi confrontado com o
surgimento de várias pequenas empresas aproveitando a alteração da
legislação, que baixou de 25 para sete o número mínimo de viaturas
necessárias para abrir portas.Ambos os
empresários consideram excessivo o número de empresas de aluguer de
veículos que operam atualmente na região - estão registadas 92 empresas
no setor, segundo o executivo regional -, mas consideram que vai haver
um “reajustamento” do mercado.“Vamos
entrar numa fase de maturação, é assim que ditam as coisas”, considerou
Raquel Franco. E concretizou: “Vamos entrar na fase em que esses
pequenos vão perceber que só faz sentido quando se tem uma estrutura.
Quando não se tem uma estrutura montada, começa tudo a tornar-se caro e a
não valer a pena – mais vale ter um parceiro a quem se liga para
arranjar um carro”.Mesmo com os ajustes naturais que preveem para o setor, pedem mais regulamentação.Luís
Rego defende que “há setores, como este, que é um exemplo, em que o
crescimento devia ser de alguma forma controlado, indexado ao aumento do
turismo”. No seu entender, o Governo Regional “tem de ter
permanentemente esta função reguladora, até mesmo para controlar, em
termos ambientais, alguns impactos”.Para
Raquel Franco, as questões de sustentabilidade também são essenciais e
deve haver uma limitação ao tamanho da frota com que cada empresa opera,
mas aponta também “a necessidade de criar medidas que coloquem todos os
‘players’ no mesmo nível de exigência - nas questões estruturais que
são necessárias, nos recursos que são necessários para ter uma
rent-a-car”.Sobre a possibilidade de
regulamentar o setor, a Secretaria Regional dos Transportes e Obras
Públicas respondeu à Lusa que “esta é, atualmente, uma atividade
liberalizada”.“Nos Açores assistiu-se, nos
últimos anos, a um forte incremento da procura, o que levou ao
aparecimento de maior oferta. O Governo dos Açores está atento a esta
realidade e às preocupações do setor, encontrando-se atualmente a
analisar essas preocupações, dado que se trata de matéria complexa, com
muitas vertentes a ter em conta”, refere.