Relatório mostra aumento de incidentes em recintos desportivos, mas violência diminui
6 de jan. de 2025, 09:50
— Lusa/AO Online
O Ponto
Nacional de Informações sobre Desporto (PNID) registou 8 879 incidentes
em espetáculos desportivos na temporada passada, mais 2 780 do que em
2022/23 (6 099), uma subida motivada pela utilização crescente de
artefactos pirotécnicos, que correspondem a 63,9% do total (5 673).Ao
aumento de incidentes corresponderam 573 medidas de interdição de
acesso a recinto desportivo que entraram em vigor, o número mais elevado
numa só época em Portugal, a maioria aplicada pela Autoridade para a
Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD), que participa na
elaboração do relatório.“Apesar de sinais
positivos em outros indicadores, o aumento do uso de artefactos
pirotécnicos nos recintos desportivos destacou-se como uma preocupação
crescente, refletindo uma tendência europeia no período pós-pandemia”,
indica o relatório, cuja quinta edição é datada de 30 de dezembro de
2024.A posse/uso de artefactos
pirotécnicos é intensificada pelo fácil acesso a este tipo de materiais e
a UEFA já identificou que a sua utilização em recintos desportivos é
“alimentada pelas redes sociais” - a par das invasões de campo -, “em
busca de notoriedade online”.Num distante
segundo lugar na lista surge o incidente de dano, cujo crescimento
exponencial (382 em 2022/23 para 738 em 2023/24) resulta da “ocorrência
atípica de cerca de 500 incidentes” em um único jogo de futebol, a final
da Taça de Portugal, entre FC Porto e Sporting.As
autoridades contabilizaram um total de 525 cadeiras danificadas no
Estádio Nacional, em Oeiras, no jogo que os portuenses ganharam por 2-1,
após prolongamento, o que fez com que o número de incidentes de dano
ultrapassasse o de injúrias, apesar de este também ter aumentado de
forma significativa (468 para 717).Em
sentido inverso, registou-se uma descida nos incidentes relacionados com
o incitamento à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância
(114, menos 67 do que em 2022/23) e agressões (302, menos 41), bem como
no número de infrações registadas ao promotor do espetáculo desportivo,
com 406.Segundo os dados do PNID, que
resultam da informação fornecida pelas forças de segurança (nomeadamente
PSP e GNR), autoridades judiciárias e administrativas, o futebol
continua a concentrar a esmagadora maioria dos incidentes, com 8 213,
seguido do futsal (432) e do hóquei em patins (101).A
I Liga é a competição que regista o maior volume de incidentes (4 031),
seguida da Taça de Portugal (1 296), futebol distrital (917) e
competições europeias (755), ainda que na divisão principal se tenham
verificado descidas nas tipologias de dano (de 102 em 2022/23 para 32),
infrações do promotor relacionadas com a segurança do espetáculo
desportivo (de 109 para 26) e venda ilícita de bilhetes (de 98 para 17).Com
3 443 incidentes registados, a utilização de material pirotécnico
representa 85,4% do total de incidentes identificados na época passada
na I Liga, a maioria dos quais ocorridos nos jogos em que participaram
os três candidatos ao título: Benfica, Sporting, que se sagrou campeão, e
FC Porto.Como reflexo daqueles dados
estatísticos, da época passada resultaram 573 interdições de acesso a
recinto desportivo, o número mais elevado de sempre e um aumento de
21,1% comparativamente à anterior, com 483 a serem da responsabilidade
da APCVD e 90 determinadas por autoridades judiciárias.No
total, a APCVD produziu 786 decisões condenatórias, com caráter
definitivo, e as que resultaram em interdições de acesso a recinto
desportivo visaram maioritariamente adeptos do Benfica (176), Sporting
(88) e FC Porto (41), valores que sobem para 108 no caso dos
sportinguistas e 53 no dos portistas quando são contabilizadas as
proferidas por tribunais.A esmagadora
maioria recaiu sobre o futebol (93,6%) e a I Liga em particular (56%),
com 71,4% a pertencerem a grupos organizados de adeptos e tendo como
principal ilícito a introdução ou utilização de pirotecnia em recintos
desportivos (76,8%).O relatório de análise
da violência associada ao desporto de 2023/24 teve por referência o
calendário do futebol, no período compreendido entre 01 de julho de 2023
e 30 de junho de 2024, devido à “representatividade desta modalidade no
total de dados recolhidos”.