Relatório aponta falta de conhecimento técnico no sistema de defesa florestal
12 de out. de 2017, 15:13
— Lusa/AO online
"O Sistema Nacional de Defesa da Floresta
Contra Incêndios carece de uma forte incorporação de conhecimento.
Muitas das decisões são tomadas apenas com base em conhecimento empírico
e baseadas em perceções normalmente questionáveis", refere o relatório
da comissão técnica independente designada para analisar os fogos de
junho na região Centro, hoje entregue na Assembleia da República e
tornado público. Assim, os peritos desta comissão defendem que a
integração do conhecimento técnico com a ação "deverá ser uma trave
mestra" na organização futura do sistema. "O aproveitamento das
melhores condições para o combate, a fluidez da informação técnica do
IPMA [Instituto Português do Mar e da Atmosfera], a capacidade de
interpretar a complexidade das situações, a integração de especialistas
de análise do fogo, assim como a intervenção de operacionais
profissionais especializados convergem num fluxo onde o conhecimento
deverá ser o fator privilegiado de conjugação", sublinha o relatório. O
documento acrescenta que os mecanismos de simulação e de apoio à
decisão "estão em estado incipiente e não têm permitido dar suporte
qualificado às intervenções operacionais". Ainda no domínio do
conhecimento, os autores do relatório frisam que "é fundamental" que a
capacidade e os recursos da investigação científica instalados em
instituições nacionais, designadamente em universidades e nos
laboratórios de Estado, seja confrontada, mobilizada, utilizada e
integrada em programas de investigação aplicada que associem empresas,
associações, forças operacionais profissionais e centros de
investigação. "O tradicional desajustamento entre a investigação
e a solução concreta das problemáticas nacionais deve, também neste
setor, ser ultrapassado, garantindo uma crescente incorporação do
conhecimento nessas problemáticas", salienta o relatório. Domínios
como a gestão do fogo, incluindo o comportamento de fogos extremos, os
modelos de ordenamento e de silvicultura preventiva, os instrumentos e
aplicações de apoio à decisão, e os projetos na área da meteorologia são
alguns dos aspetos que devem corresponder a linhas de investigação a
estruturar no futuro, é referido. "É neste quadro que se avança
com a proposta de criação de um Laboratório Colaborativo, impulsionado
por empresas e outras entidades florestais, permitindo estruturar um
programa especial dedicado, integrando linhas de investigação aplicada e
proporcionando soluções adequadas aos problemas relacionados com o
SNDFCI [Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios]",
defendem os autores do relatório. O documento hoje entregue no
parlamento analisa os fogos ocorridos entre 17 e 24 de junho nos
concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos,
Ansião, Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Arganil, Penela, Oleiros,
Sertã, Góis e Pampilhosa da Serra. O fogo que deflagrou em
Pedrógão Grande no dia 17 de junho só foi extinto uma semana depois, tal
como o incêndio que teve início em Góis (distrito de Coimbra). Os dois
fogos, que consumiram perto de 50 mil hectares em conjunto, mobilizaram
mais de mil operacionais no combate às chamas. O incêndio que
deflagrou em Pedrógão Grande, tendo alastrado a vários municípios
vizinhos, causou 64 mortos e mais de 200 feridos.