Relatório anual dos direitos humanos da diplomacia dos EUA vai incluir o aborto como abuso
Hoje 13:38
— Lusa/AO Online
Washington deu instruções para
que subsídios estatais ao aborto, por exemplo, passem a ser consideradas
como violações dos direitos humanos na compilação a ser feita para o
relatório anual do Departamento de Estado nesta matéria, concretizando a
intenção do Presidente norte-americano, Donald Trump, estender à
política externa dos EUA os princípios do "America First" (América em
primeiro lugar).A nova Administração
republicana tem-se pautado por redirecionar a questão dos direitos
humanos, adequando-a às prioridades de Trump em favor de acordos
económicos e uma agenda que considera atraentes para a sua base MAGA
(Make America Great Again), e tal passa pela revisão completa do aparato
de direitos humanos do Departamento de Estado, que há muito era a peça
central da promoção tradicional dos valores democráticos pelos EUA."Nos
últimos anos, novas ideologias destrutivas têm promovido violações dos
direitos humanos", afirmou o porta-voz adjunto do Departamento de
Estado, Tommy Pigott. "A administração Trump não tolerará essas
violações dos direitos humanos, tais como a mutilação de crianças, leis
que prejudicam a liberdade de expressão e práticas de emprego
discriminatórias em termos raciais", disse ainda, acrescentando: "já
chega".O secretário de Estado
norte-americano, Marco Rubio, enviou uma nota nesse sentido às
embaixadas dos Estados Unidos em todo o mundo, para que implementem as
novas diretrizes na elaboração do relatório anual sobre direitos
humanos, explicou a vários jornalistas um alto funcionário do
Departamento de Estado, sob condição de anonimato.Os
Estados Unidos pretendem, em particular, afastar-se das "identidades de
grupo" para se concentrarem melhor nos "direitos naturais" do
indivíduo, acrescentou.Os direitos
"pré-existem aos governos e são-nos concedidos por Deus, nosso Criador, e
não pelos governos", que estão lá para "defendê-los", afirmou ainda o
responsável do Departamento de Estado.Com
efeito, no primeiro relatório do Departamento de Estado sobre direitos
humanos publicado pela nova Administração Trump — divulgado em agosto,
mas redigido em grande parte antes do regresso do líder republicano ao
poder —, as referências aos direitos LGBT+ foram consideravelmente
expurgadas."Estamos a afastar-nos das
identidades de grupo, dos rótulos de grupo", afirmou o alto responsável
do Departamento de Estado, "e a concentrar-nos no facto de que, quando
uma pessoa é perseguida por qualquer motivo, isso constitui uma violação
da lei moral", acrescentou, sugerindo que as administrações anteriores
"talvez se tivessem concentrado em certas questões que, na opinião [da
nova liderança da Casa Branca], eram motivadas por considerações
políticas".Entre os abusos citados, estão a
mutilação química ou cirúrgica de crianças em operações destinadas a
alterar o sexo ou "prisões, sanções administrativas e 'investigações ou
advertências oficiais' por declarações proferidas", segundo outro
responsável norte-americano."A aplicação
de políticas como a discriminação positiva em matéria de diversidade,
equidade e inclusão, que 'concedem um tratamento preferencial' aos
trabalhadores com base na raça, sexo ou casta" também está na mira.As
novas diretrizes citam ainda a "facilitação" da imigração ilegal e "os
subsídios públicos para abortos ou medicamentos abortivos" ou a
eutanásia.Todos os anos, o Departamento de
Estado traça um panorama da situação dos direitos humanos no mundo,
país por país, que muitas vezes choca vários governos. Mandatado pelo
Congresso americano, era considerado pelos especialistas como uma
referência mundial do ponto de vista dos direitos, liberdades e
garantias.No último relatório, os Estados
Unidos lamentaram, em particular, a "deterioração" dos direitos humanos
na Europa, visando nomeadamente as restrições à liberdade de expressão.No
início deste mês, os Estados Unidos boicotaram na ONU em Genebra a
Revisão Periódica Universal do seu desempenho em matéria de direitos
humanos, o que suscitou críticas veementes por parte de delegados de
outros países.