Relação revoga decisão de Ivo Rosa que levantou arresto a primo de Ricardo Salgado
BES/GES
3 de out. de 2022, 15:40
— Lusa/AO Online
Em
acórdão do TRL da última semana, a que a agência Lusa teve acesso,
os juízes da 3.ª Secção Criminal deram razão ao recurso interposto pelo
Ministério Público (MP) sobre a matéria, declarando "inexistente" a
decisão tomada em 18 de fevereiro pelo juiz Ivo Rosa, ficando esta
revogada, pelo que se mantém a decisão de arresto proferida a 21 de
outubro de 2021 pelo juiz Carlos Alexandre, "com todas as consequências
legais".Além de revogar a decisão que
levantou o arresto de bens de José Manuel Espírito Santo (primo de
Ricardo Salgado), o TRL critica o facto de a decisão tomada em fevereiro
por Ivo Rosa acabar por "pôr em causa, manifestamente, o mérito da
decisão" anterior (de decretar o arresto) proferida por Carlos
Alexandre."O senhor juiz de instrução
criminal (Ivo Rosa) não detinha poderes jurisdicionais para proferir a
decisão recorrida", diz o acórdão da Relação, considerando que "não
cabia ao arrestado (José Manuel Espírito Santo) suscitar as nulidades e
irregularidades e invalidade da decisão" de arresto perante o juiz de
instrução criminal Ivo Rosa, "mas sim em recurso" para a Relação.O
TRL entendeu que o despacho de Ivo Rosa "mais não é que uma
reapreciação do mérito da decisão" de Carlos Alexandre e que motivou
oposição de José Manuel Espírito Santo em relação aos bens arrestados."O
senhor juiz de instrução criminal (Ivo Rosa) que subscreve a decisão
recorrida pronuncia-se e decide sobre a decisão (de Carlos Alexandre) já
proferida a 21 de outubro de 2021 como se fosse uma instância de
recurso, esquecendo que está investido na função de juiz recorrido e se
devia colocar numa posição compatível com a autoria daquela outra
decisão, mesmo não sendo ele o subscritor da mesma, por ter sido
proferida por colega que o antecedeu na titularidade do processo em
causa", acentua o TRL. "Tendo a decisão
recorrida sido proferida após esgotado o poder jurisdicional do juiz que
a subscreveu, essa decisão é inexistente por ter sido proferida por
quem não tinha poder jurisdicional em relação às questões suscitadas",
conclui o TRL, dando razão ao recurso interposto pelo MP.
Em fevereiro, o juiz Ivo Rosa decidira revogar uma decisão do juiz
Carlos Alexandre e levantar o arresto de todos os bens de José Manuel
Espírito Santo Silva, o primo de Ricardo Salgado e antigo administrador
do BES que está acusado pelo Ministério Público da prática de oito
crimes em coautoria, incluindo burla qualificada e infidelidade, no
processo BES/GES. Em causa estava o arresto de imóveis, carros, pensão e recheio das casas, incluindo joias, objetos de arte e relógios.
Para revogar o arresto, Ivo Rosa invocou que o Ministério Público não
apresentou factos concretos que apontassem para uma “provável iminente
alienação ou oneração do património e consequente perigo fundado de
perda de garantia patrimonial”.
Considerado um dos maiores processos da história da justiça portuguesa,
este caso agrega no processo principal 242 inquéritos, que foram sendo
apensados, e queixas de mais de 300 pessoas, singulares e coletivas,
residentes em Portugal e no estrangeiro. Segundo o Ministério Público
(MP), cuja acusação contabilizou cerca de quatro mil páginas, a
derrocada do Grupo Espírito Santo (GES), em 2014, terá causado prejuízos
superiores a 11,8 mil milhões de euros.