Reitora da Universidade dos Açores lamenta falta de vontade política para corrigir subfinanciamento
12 de jan. de 2023, 11:14
— Lusa/AO Online
“A
longevidade desse subfinanciamento tem tido lesivas consequências no
desenvolvimento das instituições insulares. Lamentavelmente, continua a
não ser possível conjugar vontades e iniciativas políticas que permitam
garantir a correção definitiva desta situação”, afirmou Susana Mira
Leal, na cerimónia do 47.º aniversário da instituição, que decorreu na
aula magna, em Ponta Delgada.A reitora
alertou que o financiamento da UAc é “manifestamente insuficiente e
desadequado às especificidades insulares e ultraperiféricas”, uma vez
que a academia continua dependente de “boas vontades” e “apoios
pontuais” que “não garantem previsibilidade”.“Do
Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior chegam promessas de
uma nova forma de financiamento que corrigirá assimetrias e atenderá às
especificidades das regiões insulares e ultraperiféricas. Estamos
prontos e disponíveis para participar no processo”, declarou.Além
do subfinanciamento, a reitora elencou as “significativas taxas de
insucesso e abandono escolar”, a “pequena dimensão do tecido
empresarial” açoriano e a “baixa atratividade da região para recursos
humanos qualificados” como “circunstâncias que constrangem o
desenvolvimento” da UAc.Susana Mira Leal
apontou ainda como outras dificuldades as “exigências de acreditação das
instituições de ensino superior”, o “envelhecimento do quadro pessoal”,
a “necessidade de manutenção do quadro edificado” e a “baixíssima taxa
de prosseguimento de estudos superiores pelos jovens açorianos”.A
reitora adiantou que as candidaturas da UAc às verbas do Plano de
Recuperação e Resiliência (PRR) para a construção de residências em
Angra do Heroísmo, Horta e Ponta Delgada foram aprovadas, mas alertou
que exigem um “investimento de capitais próprios” que a academia “não
dispõe”.“Em Angra do Heroísmo, o município
cedo percebeu a importância estratégica do investimento e prontamente
se disponibilizou para o viabilizar. Na Horta, o senhor presidente já se
disponibilizou a apoiar, mas o capital ainda não se encontra totalmente
garantido”, assinalou.Relativamente a Ponta Delgada, a responsável disse que “o projeto está manifestamente comprometido por falta de financiamento”. “Os
investimentos têm de estar concluídos até ao início de 2026 e qualquer
atraso e hesitação no seu arranque comprometê-los-á irremediavelmente”,
salientou.Susana Mira Leal avisou também
que existem 700 estudantes deslocados em Ponta Delgada e “menos de 300
camas disponíveis”, estando “limitada a capacidade de atrair estudantes”
para aquele 'campus'.Em 2023, a UAc vai
abrir novos concursos para professores catedráticos e lançar novos
mestrados, doutoramentos e pós-graduações, revelou ainda.Também
numa intervenção na cerimónia, o presidente do Conselho Geral da UAc,
Elias Pereira, considerou que a reitoria “não pode ter como prioridade a
sobrevivência” e pediu medidas face ao “divórcio” entre a universidade e
os alunos.“Uma instituição de ensino
superior tem de se envolver com a sociedade civil e contribuir para o
sucesso da atividade económica e cultural. É verdadeiramente impensável
que organização do curso de mestrado seja feito dentro de portas sem
saber se existem destinatários”, realçou Elias Pereira.A 06 de janeiro, a Assembleia da República chumbou dois diplomas que
pretendiam reforçar o financiamento das universidades da Madeira e dos
Açores, de forma a compensar os constrangimentos decorrentes da
insularidade.