Região acompanha furacão por imagens de satélites dada a falta de radares
2 de out. de 2019, 09:39
— Lusa/AO online
“Este
furacão está a ser seguido com imagens de satélite e modelos
meteorológicos que fazem a previsão. O Centro de Miami, que é o
responsável por este tipo de fenómeno no Atlântico Norte, tem os seus
próprios modelos. Em conjunto com os nossos modelos e os deles, é feito
esse acompanhamento. Um acompanhamento mais próximo do local é feito com
imagens de satélite”, adianta à Lusa a meteorologista Vanda Costa, do
Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).A
responsável explica que um satélite dá “uma fotografia do alto da
atmosfera para baixo, para a superfície terrestre”, de onde é possível
“retirar muita informação”. Já um radar “trabalha da terra para a
altitude” e tem um campo de ação “muito mais pequeno”, mas “consegue
detetar partículas que o satélite não consegue”, servindo para uma
previsão a curto prazo.Os Açores eram, até
2016, servidos por um único radar, no Pico de Santa Bárbara, na ilha
Terceira, que era propriedade do Departamento de Defesa dos Estados
Unidos da América, mas foi desativado na sequência do processo de
redução da base militar norte-americana nas Lajes.Atualmente,
não há nenhum radar meteorológico operacional na região, mas a
instalação desta estrutura no Pico de Santa Bárbara está prevista para
este ano, e está planeada, também, a construção de um radar no Pico da
Barrosa, em São Miguel.Em junho, Jorge
Miranda, presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA),
salientou que “os Açores precisam de três radares e que o radar das
Flores – que é, muitas vezes, pouco discutido – é um elemento
fundamental da rede, porque a maioria das tempestades mais gravosas que
atingem as ilhas viriam a ser primeiramente detetadas no radar das
Flores”.Questionada sobre se estes
equipamentos fazem falta à operação do IPMA na região, Vanda Costa
responde que “sim, sem dúvida” e concretiza: “Uma das situações que
temos aqui nos Açores, e a nível mundial, é a previsão da precipitação
intensa. É difícil de se prever, não só aqui nos Açores, é um problema
mundial, e um radar vem ajudar, não na previsão a longo prazo, ou seja,
de dois ou três dias, mas sim de uma ou duas horas”.A
meteorologista ressalva, no entanto, que este instrumento traria mais
precisão às previsões, mas a sua ausência não compromete o trabalho do
instituto.Além dos radares, há, no
arquipélago, uma carência de estações meteorológicas. Nas duas ilhas do
arquipélago da Madeira, o IPMA tem 16 estações, sendo que 15 ficam na
ilha da Madeira e uma no Porto Santo. Pelas nove ilhas dos Açores, estão
distribuídas apenas 11.Estas estações são
essenciais para a observação dos fenómenos meteorológicos, explica
Vanda Costa, que, sem adiantar um número preciso, afirma que, “de uma
forma geral, a rede terá de ser reforçada no arquipélago todo”.“Quanto
maior for a ilha, maior a necessidade de ter estações. Em todas as
costas ter uma estação, era importante, pelo menos”, indica a
meteorologista, apontando o protocolo para intercâmbio de dados
meteorológicos, celebrado entre o IPMA e o Governo Regional dos Açores,
que permite um melhor acompanhamento dos fenómenos.Ainda
assim, a cientista acautela que “a meteorologia é uma ciência exata,
mas de muita incerteza. Há situações que, mesmo com os melhores meios,
não podem ser asseguradas”.“Apesar de
termos evoluído muito, estamos a falar de cálculos e aproximações. É
muito difícil transformar a natureza em equações matemáticas. Isso
acontece em qualquer lado”, garante.O
número de ocorrências nos Açores devido ao furacão “Lorenzo” aumentou
para 82, estando 41 resolvidas e 41 em curso, segundo uma nota divulgada
pelo Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros do arquipélago.“Destas
82 ocorrências, 30 foram registadas na ilha do Faial, 16 na ilha das
Flores, 12 na ilha de São Jorge, quatro na ilha Terceira, 13 na ilha do
Pico, duas no Corvo e três na Graciosa, estando relacionadas, sobretudo,
com obstruções de vias, danos em habitações, quedas de árvores e
inundações e galgamentos costeiros”, avançou a Proteção Civil açoriana.