'Reforço do poder de Xi Jinping mantém linha de continuidade na China '
28 de out. de 2022, 16:56
— Lusa/AO Online
Durante um seminário virtual
sobre o 20.º congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), que terminou
no fim de semana passado, o analista da Economist Intelligence Unit
(EIU) Nick Marro considerou na quinta-feira pouco provável que a China
invada Taiwan num futuro próximo.“Na
probabilidade de um conflito entre os dois lados do estreito [de
Taiwan], seria de esperar que houvesse uma intervenção dos Estados
Unidos e isso continua a ser o maior [fator] dissuasor”, justificou.Apesar
disso, antecipou que a China aumentará a pressão sobre Taiwan com a
aproximação das eleições na ilha em 2023, inclusive através de
exercícios militares.O objetivo, segundo
Marro, será tentar evitar uma vitória do Partido Democrático
Progressista, cuja visão mais cética em relação à China é vista em
Pequim como sendo pró-independência da ilha.“O
potencial de um erro de cálculo acidental, que poderá entrar em espiral
e gerar um conflito maior, é ainda muito real”, alertou.Marro
disse também que não se espera que a China forme um bloco ao estilo da
Guerra Fria com a Rússia, até porque Pequim está a “reavaliar as suas
próprias projeções” sobre a forma como se desenvolve a relação com
Moscovo.No entanto, referiu, “a perspetiva geopolítica é ainda bastante sombria”.“A
administração de Xi Jinping tem sido muito caracterizada pelo reforço
dos controlos sobre as liberdades civis na China, e isso vai manter a
China em rota de colisão com muitos dos seus parceiros globais”, disse.Num
quadro também marcado pela guerra comercial com os Estados Unidos e
receios da política chinesa de “zero casos” de covid-19, os analistas da
EIU anteciparam uma quebra no investimento estrangeiro na China nos
próximos anos, em favor do Sudeste Asiático.A
nível interno, a analista Yue Su disse que o fortalecimento do poder de
Xi passou pelo afastamento de figuras ligadas à Liga Comunista da
Juventude da China e à clique de Xangai, que “anteriormente dominavam o
sistema político” no país.Esta “regressão
institucional”, como lhe chamou Yue Su, implicará menos controlo e
equilíbrio na tomada de decisões, além de poder “aprofundar ainda mais o
confronto ideológico com o Ocidente”.Para
a analista, Xi garantiu maior unidade, mas a nova composição da cúpula
do poder tem uma menor ligação com as administrações regionais, o que
poderá “implicar dificuldades em termos de implementação de políticas”.O
analista Tianchen Xu viu no congresso do PCC indicações de que se irá
manter a política de “zero casos” de covid-19, assumida como um triunfo
político de Xi, mas com um impacto negativo em muitos setores de
produção.Tianchen Xu alertou que certas
medidas relacionadas com a covid-19, como o alívio de algumas restrições
para turistas ou a redução do tempo de quarentena, não devem ser
interpretadas como o “fim iminente” da política de “zero casos”.Os
analistas da EIU também anteciparam que a economia chinesa deverá
crescer menos de 3% em 2030, depois de um pico de 4,7% no próximo ano, e
que as cidades da costa sudeste da China beneficiarão do “atual cenário
de política macroeconómica”.Yue Su
referiu, em particular, a região do Delta do Rio das Pérolas, que inclui
a província de Guangdong e as regiões de Macau e Hong Kong, onde vivem
cerca de 40 milhões de pessoas.A China é o país mais populoso do mundo, com mais de 1.450 milhões habitantes.Os
analistas da EIU consideraram ainda que o entusiasmo no congresso do
PCC em torno do projeto da Nova Rota da Seda esfriou relativamente a
anos anteriores.Nick Marro atribuiu essa
circunstância a uma maior vulnerabilidade das economias emergentes
devido à pandemia de covid-19, “não só em termos fiscais, mas também em
termos do tipo de exposição ao crédito”, e a maiores exigências ao nível
do investimento estrangeiro.“Estamos a
assistir a uma abordagem muito mais madura em matéria de empréstimos,
financiamento e investimento, o que é globalmente positivo”, disse.“Mas,
inevitavelmente, isso vai levar a um arrefecimento em alguma atividade,
particularmente à medida que a economia global lida com a recessão no
próximo ano”, acrescentou.