Reforçada presença policial e avisos contra infiltração por “forças hostis”
China/Protestos
30 de nov. de 2022, 17:32
— João Pimenta/Lusa/AO Online
A
presença de soldados do Exército de Libertação Popular, as Forças
Armadas da China, na entrada de edifícios governamentais, sobretudo
ministérios, é comum na capital chinesa. No entanto, a sua colocação nas
pontes pedonais ao logo da principal circunvalação da cidade, observada
pela agência Lusa, estará relacionada com um episódio que antecedeu os
protestos deste fim de semana.Paralelamente,
as autoridades apelam aos cidadãos para delatarem quaisquer
"comentários inflamatórios" nas redes sociais sobre as contestadas
restrições impostas pelo regime e justificadas com a covid-19.Em
outubro passado, foi colocada uma faixa numa das pontes mais
movimentadas da cidade a exigir o fim da política de ‘zero casos’ de
covid-19 e a destituição do líder chinês, Xi Jinping.As
palavras de ordem escritas na faixa – "Não queremos mentiras, queremos
dignidade; Não queremos Revolução Cultural, queremos reformas; Não
queremos líderes fortes, queremos eleições; Não queremos ser escravos,
queremos ser cidadãos" – foram repetidas por alguns dos manifestantes
nas manifestações deste fim de semana.Este
protesto isolado ocorreu no dia 13 de outubro, nas vésperas do 20.º
Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), que cimentou o estatuto de
Xi como o líder mais forte desde Mao Zedong, o fundador do regime. Sob a
direção de Xi, o PCC voltou a penetrar na vida política, social e
económica da China, enquanto o poder político se centrou na sua figura.Em
comunicado, a Comissão Central para Assuntos Políticos e Jurídicos do
PCC prometeu hoje “reprimir resolutamente as atividades de infiltração e
sabotagem por forças hostis”.Centenas de
carros da polícia e veículos blindados com as luzes de alerta ligadas
foram colocados em vários pontos das principais cidades da China,
enquanto agentes da polícia e das forças paramilitares realizaram
verificações aleatórias de identidade e vasculharam os telemóveis das
pessoas à procura de fotos e vídeos dos protestos ou aplicações banidas
no país, incluindo Facebook, Twitter ou Instagram.Na
cidade de Shenzhen, os Comités de Bairro, o nível mais baixo da
burocracia chinesa, em que o Partido Comunista Chinês confia para
difundir diretrizes e propaganda a nível local, alertaram os moradores
para a infiltração de “soldados dos Estados Unidos e de Taiwan” nas suas
áreas de residência, que supostamente quererão “incitar as pessoas a
revoltarem-se contra as medidas de prevenção epidémica”.“Se
forem adicionados a um grupo no WeChat onde são feitos comentários
inflamatórios, devem fazer imediatamente uma captura de ecrã e reportar à
Agência de Segurança Nacional”, lê-se numa mensagem recebida por um
habitante de Shenzen a que a Lusa teve acesso. O WeChat é a rede social
mais utilizada na China.“[A moeda
chinesa], o yuan, vai certamente substituir o dólar norte-americano no
futuro, o que será a morte dos Estados Unidos. Por isso, os americanos
estão a tentar de tudo para conter o nosso país”, lê-se na mesma nota.O
controlo social foi reforçado na China no âmbito da política de ‘zero
casos’ de covid-19, que inclui o bloqueio de bairros ou cidades
inteiras, a realização constante de testes em massa e o isolamento de
todos os casos positivos e respetivos contactos diretos em instalações
designadas, muitas vezes em condições degradantes.Esta
estratégia gerou uma sucessão de tragédias e casos de abuso da
autoridade, culminando em protestos em larga escala, suscitados por um
incêndio mortal, num prédio na cidade de Urumqi, no noroeste da China,
na sexta-feira passada. Os manifestantes dizem que os bloqueios no
bairro, no âmbito das medidas de prevenção epidémica, atrasaram o acesso
do camião dos bombeiros. Os moradores também não conseguiram escapar do
prédio, cuja porta estava bloqueada.As autoridades chinesas atribuem frequentemente protestos no país a “forças externas hostis”.