Recuperar a Sociedade Filarmónica Dr. Armas da Silveira

20 de jan. de 2025, 11:01 — Nuno Martins Neves

Criada em 1930, a Sociedade Filarmónica Dr. Armas da Silveira foi, durante décadas, o centro cultural e social de Santa Cruz das Flores. “Diria mesmo, de toda a ilha”, acrescenta Hélio Fraga, antigo membro da direção e membro da filarmónica. Hoje, com 67 anos, integra como suplente a lista dos novos órgãos sociais que procuram reerguer a instituição do coma em que caiu desde o final da década de 90, primeiro com o fim da filarmónica, em 1996, e depois com o extinguir da sociedade, em 2021. Impulsionado por Cecília Estácio, deputada regional eleita pelo PSD/Açores e uma “apaixonada pelo associativismo”, a Sociedade Filarmónica Dr. Armas da Silveira vai ter no próximo dia 16 de fevereiro a sua primeira assembleia-geral em quatro anos, onde será empossada a nova direção.Para Cecília Estácio, a “dor de alma que é ver o edifício, situado no coração da vila de Santa Cruz” foi o mote para começar a arregimentar quem quisesse ajudar a recuperar a sede e a instituição.“É um espaço que está muito mal aproveitado e nós queremos reabrir, reerguer e devolver a sociedade a Santa Cruz, pois é um local emblemático da vila”.Emblemático e com muito potencial, acrescenta: “Quando chegamos aqui e vimos o potencial do edifício e vimos o estado em que estava, sentimos pena. Há falta de espaços em Santa Cruz para efetuar atividades, temos recebido muitos pedidos de famílias para realizar eventos”.As ações de limpeza já começaram e no seu interior encontraram um espólio em avançado estado de decomposição, fruto da chuva que cai “como se estivesse na rua”. Recuperar a lista de sócios foi um desafio, mas aos poucos “conseguiu-se” e agora o próximo passo será a assembleia-geral.O objetivo principal, diz Cecília Estácio, será recuperar o edifício, que poderá ter múltiplas funções, podendo até servir de espaço de acolhimento para grupos que venham às Flores.“O nosso principal objetivo é recuperar o edifício, que precisa de obras. E depois gostaríamos, com algum tempo e com as pessoas que vão fazer parte da direção, pensar em criar algo em termos musicais. Talvez não uma filarmónica, mas começar com algo mais pequeno”.O empenho que Cecília Estácio e os elementos mais novos da direção estão a aplicar tem entusiasmado os outros membros, com mais experiência. “É um trabalho conjunto e vemos que os mais velhos estão entusiasmados, por verem uma nova vida a este espaço. Estamos a tentar aliar o conhecimento que têm do que aqui acontecia, com a vontade de trabalhar e disponibilidade dos mais novos”, diz.“A Cecília está entusiasmada e acho muito bem. Este é um espaço que diz muito à minha geração e seria muito importante, mesmo para a nossa ilha”.Dos sócios que deixaram sangue, aos bailes que animaram a ilhaApesar de fundada em 1930, a Sociedade Filarmónica Dr. Armas da Silveira só viria a ocupar a sede atual na década de 60. Aé então, era num pequeno espaço no Convento dos Franciscanos, recorda Hélio Fraga. “Tinha 10 anos e lembro-me do senhor José Miguel, cantoneiro da Câmara, abrir a janela da sede e tocar o cornetim para chamar os músicos para o ensaio”.Só em 1965 se iniciou a construção da sede, aproveitando a presença da empresa de construção civil Augusto Santos - “que veio para construir o hospital, as casas e o hotel dos franceses”. Noutros tempos, os sócios meteram a “mão na massa” e ajudaram a levantar a obra. Tanto, que houve um que “caiu e chegou a partir a perna”.Inaugurado em 1965, rapidamente se tornou o local de eleição da ilha. “Trouxe muita coisa a Santa Cruz: fazia-se muitos bailes lá, de Carnaval, de fim de ano, havia um chamado Baile da Pinha, na Quaresma”. Além da filarmónica, também o conjunto Ecos do Ocidente anivam os bailes. “Nessa altura, era o centro cultural de Santa Cruz, das Flores mesmo!”.