Recuperação da atividade do SNS pode justificar incentivos extraodinários
4 de nov. de 2020, 09:10
— Lusa/AO Online
Para o Tribunal de Contas, a recuperação da
atividade interrompida devido à pandemia de covid-19 requer cuidados
adicionais na prática clínica, sob pena de a capacidade instalada ser
insuficiente face ao acréscimo de procura, “sem o aumento acentuado dos
tempos de espera”. Na sequência de uma
ação de controlo, o TdC sugeriu que após o confinamento geral decorrente
do estado de emergência (que vigorou na primeira vaga da pandemia)
“poderá ser oportuno proceder a um reconhecimento no Serviço Nacional de
Saúde das melhores práticas administrativas de reorganização dos
serviços, bem como a revisão e o ajustamento de planos de contingência”,
por forma a conhecer e avaliar a afetação de recursos ao tratamento dos
doentes com covid-19, face às necessidades de diagnóstico e tratamento
de outras doenças, ainda que não urgentes.Em
maio, o Tribunal de Contas redefiniu as prioridades do Plano de Ação
para 2020 e introduziu ajustamentos de apreciação do impacto da doença.Neste
contexto, organizou uma ação de controlo relativa à gestão da pandemia
pelo Ministério da Saúde, cujos resultados preliminares hoje divulgou,
focando-se nos impactos da crise pandémica na atividade do SNS e no
acesso dos cidadãos aos cuidados de saúde prestados.As
medidas de contingência adotadas no setor da saúde incluíram o
adiamento da atividade programada (não urgente) desenvolvida no SNS,
como forma de conter a evolução do contágio e de garantir capacidade
para fazer face às situações de covid-19. Por
outro lado, observou o TdC, o receio da população também levou à
diminuição da procura dos serviços de saúde, incluindo os urgentes. A
atividade dos prestadores do SNS nos meses de março a maio de 2020 foi
inferior à registada no mesmo período de 2019. No relatório hoje
divulgado, o TdC destacou a redução da atividade cirúrgica programada
(-58%, 93.300 cirurgias), da atividade dos serviços de urgência
hospitalares (-44%, 683.389 atendimentos) e das primeiras consultas
externas médicas hospitalares (-40%, 364.535 consultas). Por
sua vez, o recurso à teleconsulta foi “relevante para conter a redução
da atividade presencial” nos cuidados de saúde primários (aumento de 83%
das consultas não presenciais ou inespecíficas, passando a representar
65% do total), “embora nos cuidados de saúde hospitalares a realização
deste tipo de consultas se tenha mantido residual”, de acordo com os
dados apresentados.A retoma da atividade
não urgente no SNS foi enquadrada por despacho da ministra da Saúde,
Marta Temido (02 de maio), que determinou medidas “potencialmente
promotoras de uma mais eficaz e eficiente alocação dos recursos, ainda
que existam riscos quanto à sua concretização”, concluíram os relatores.Em
junho, os resultados da retoma da atividade “não se revelaram
uniformes”, indicaram os responsáveis do TdC por este trabalho. “Verificou-se
uma recuperação parcial dos níveis de produção de consultas e cirurgias
programadas em algumas unidades hospitalares, mas, na generalidade das
unidades, a produção manteve-se inferior à realizada em 2019”,
escreveram os autores do documento. Agora,
“o desafio sobre a alocação adequada dos recursos e a regulação dos
níveis de serviço disponibilizados, na medida do necessário, mantém-se
no presente e no futuro próximo, tendo em conta a necessidade de
recuperação da atividade programada não realizada e a resposta do
Serviço Nacional de Saúde à segunda fase de maior incidência da
pandemia”. As novas inscrições de utentes
para consulta externa hospitalar (referenciadas pelos cuidados de saúde
primários) e para cirurgia “reduziram-se acentuadamente”.“Até
maio, foram feitos apenas 67% dos pedidos de consulta e realizadas 42%
das inscrições para cirurgia ocorridas no período homólogo de 2019”,
notou o TdC. No entanto, as medianas dos
tempos de espera dos utentes em lista agravaram-se entre 31/12/2019 e
31/05/2020: nas consultas externas, de 100 para 171 dias, com cerca de
69% dos inscritos em 31/05/2020 a aguardar além dos Tempos Máximos de
Resposta Garantidos (TMRG). Nos inscritos para cirurgia, a variação foi
de 106 para 147 dias, com cerca de 43% dos inscritos em 31/05/2020 a
ultrapassar os TMRG. “Verificou-se alguma
deterioração do cumprimento do TMRG nas cirurgias realizadas em maio de
2020, ainda que se mantivesse relativamente próximo dos valores
registados em anos anteriores”, revelou a ação de controlo.Nas
cirurgias mais urgentes (prioridades 3 e 4, doença oncológica e não
oncológica), o cumprimento dos TMRG melhorou, “reflexo do foco da
atividade nestes doentes, face aos menos urgentes”.