Rainha britânica visitou Portugal duas vezes, em 1957 e 1985
Óbito/Isabel II
8 de set. de 2022, 19:33
— Lusa/AO Online
Tendo
ocupado o trono britânico durante 70 anos e 214 dias, apenas atrás do
Rei francês Luís XIV, que mantém o título do soberano com o mais longo
reinado do mundo, Isabel II deslocou-se pela primeira vez a Portugal em
1957.Foi a sua quarta visita ao
estrangeiro após a subida ao trono, aos 25 anos, após a súbita morte do
pai, o Rei Jorge VI, e a primeira em 50 anos de um soberano britânico ao
“fiel Aliado”, a convite do então Presidente da República portuguesa,
general Francisco Craveiro Lopes.Craveiro
Lopes tinha sido recebido pela monarca em Londres dois anos antes, em
1955. Foi o terceiro chefe de Estado estrangeiro a visitar a jovem
rainha, apenas dois anos após a sua coroação (1953).Em
fevereiro de 1957, aos 30 anos, Isabel II foi transportada do iate real
Britannia, fundeado no Tejo, num faustoso bergantim do século XVIII,
cuja beleza ela elogiou – declarando “os portugueses têm coisas bonitas”
– e recebida com pompa e circunstância no Cais das Colunas, onde
estavam perfilados os mais altos dignitários portugueses.Seguiu-se,
no Terreiro do Paço, uma parada com seis mil homens, e ficou instalada
no Palácio de Queluz, em cujos arranjos e decoração três mil operários
trabalharam durante vários meses. Além da capital, Isabel II deslocou-se ao Porto, a Vila Franca de Xira, à Nazaré, a Alcobaça e ao mosteiro da Batalha. A
Rádio Televisão Portuguesa (RTP), ainda em fase de emissões
experimentais, fez com esta visita a primeira reportagem de exterior.Em
1977, três anos após o fim da ditadura, o então Presidente português,
António Ramalho Eanes, fez uma visita de Estado ao Reino Unido, a seguir
a uma passagem pelo Parlamento Europeu, em Estrasburgo, França,
procurando realçar a mudança de regime em Portugal e o desejo de
integração europeia.Num sinal de apoio à
jovem democracia europeia, Isabel II regressou a Portugal em 1985, meses
antes da adesão formal de Lisboa à União Europeia (então Comunidade
Económica Europeia), assinada pelo então primeiro-ministro, Mário
Soares.O líder socialista protagonizaria a
última visita de Estado entre os dois países, ao deslocar-se ao Reino
Unido em 1993 como Presidente da República, aproveitando para condecorar
a rainha com o Grande Colar da Ordem da Torre e Espada.Isabel
II foi a terceira estadista estrangeira a receber a mais alta distinção
honorífica portuguesa, que precisou de aprovação em Lisboa por decreto
especial, após ter sido atribuída a dois ditadores: o chefe de Estado
espanhol general Francisco Franco e o Presidente brasileiro Emilio
Garrastazu Médici.O decreto especial foi
necessário por se tratar de uma distinção exclusivamente destinada a
distinguir antigos Presidentes da República portugueses no final dos
respetivos mandatos, regra que só foi alterada em 2011.Isabel
II não regressou a Portugal, mas em 1987 visitaram o país o então
herdeiro da coroa britânica, o príncipe Carlos, acompanhado da primeira
mulher, a princesa Diana. Antes disso, em
1986, um dos seus irmãos mais novos, o príncipe André, passou parte da
lua-de-mel com a mulher, Sarah Ferguson, nos Açores. Carlos
– a partir de hoje, o Rei Carlos III do Reino Unido - voltou a Lisboa
para uma visita oficial durante a Exposição Mundial de 1998 (Expo’98). Jorge
Sampaio, em 2002, e Marcelo Rebelo de Sousa, em 2016, foram ambos
recebidos como chefes de Estado pela Rainha no Palácio de Buckingham,
embora em visita oficial de trabalho e não de Estado.O
encontro de Marcelo Rebelo de Sousa com a Rainha notabilizou-se pela
breve troca de palavras captadas pelas câmaras de televisão, quando o
Presidente recordou ter assistido pessoalmente às duas visitas da
monarca a Portugal.“Eu estava lá, era uma
criança", contou, a propósito da primeira visita da monarca, em 1957,
quando tinha oito anos, ao que a Rainha espirituosamente respondeu:
"Tenho a certeza de que era”.O Jubileu de
Platina de Isabel II - os seus 70 anos de reinado, cujas comemorações
decorreram entre fevereiro e junho deste ano – coincidiu com o 650.º
aniversário da mais antiga aliança diplomática do mundo, entre Portugal e
Reino Unido, que perdura até à atualidade. O
Tratado de Aliança entre Portugal e Inglaterra, ou Tratado de Tagilde,
foi assinado a 10 de julho de 1372, entre Portugal e Inglaterra, na
Igreja de São Salvador de Tagilde entre o rei D. Fernando, o Formoso, e
representantes do Duque de Lencastre (filho de Eduardo III de
Inglaterra).O Tratado de Tagilde foi o
primeiro de uma série de acordos que consolidaram a aliança
anglo-portuguesa, a mais antiga entre Estados independentes do mundo, em
particular o tratado de Windsor (1386), que resultou no casamento do
rei de Portugal, João I, com D. Filipa de Lencastre.