Radioamadores com papel crucial nas comunicações de emergência nos Açores
6 de out. de 2025, 10:15
— Lusa/AO Online
“Estamos
sempre aqui para ajudar, seja numa emergência, urgência e mesmo no
dia-a-dia. Há sempre um radioamador à escuta, pronto a ouvir um pedido
de socorro”, afirmou à agência Lusa Bruno Farias, secretário da
Associação de Radioamadores dos Açores (ARA), a primeira a ser fundada
na região, em 1976.A rede de radioamadores
do arquipélago integra seis associações: uma em São Miguel, outra em
Santa Maria, Faial, São Jorge e duas na ilha Terceira. A mais recente é a
de São Jorge, fundada há dois anos.Bruno
Farias sublinhou que ao longo dos anos os radioamadores açorianos têm
sido chamados a intervir em momentos críticos, assinalando os casos do
sismo de 1998 no Faial, a derrocada na Ribeira Quente (São Miguel), onde
a 31 de outubro de 1997 a chuva intensa provocou derrocadas e 29
pessoas morreram soterradas, ou a passagem do furacão Lorenzo, em 2019.Apesar
dos avanços na tecnologia, com os sistemas de satélite em crescente
implementação, Bruno Farias referiu que “existe sempre o risco de uma
ilha ficar completamente isolada”, em caso de catástrofes naturais.“Fizemos
ligação com a Proteção Civil. Fizemos ligações entre residentes e
familiares no exterior. Consultas médicas marcadas e remarcadas através
do rádio, nas Flores, durante a passagem do furacão. Eram enviadas
mensagens entre famílias até serem restabelecidas as ligações”,
descreveu o secretário da ARA.Mais
recentemente, durante a passagem do furacão Gabrielle, em setembro, a
rede de radioamadores do arquipélago teve também "um papel importante na
manutenção de comunicações interilhas, garantindo redundância em
situações de falha de energia e rede".Foi
uma operação conjunta com várias associações, que "mostrou o valor da
cooperação e da preparação da comunidade radioamadora", realçou Bruno
Farias.A rede esteve de prevenção, durante
toda a noite e madrugada, para a eventualidade de as comunicações
falharem devido ao mau tempo, tendo-se verificado uma grande adesão dos
radioamadores: "Pela primeira vez juntaram-se todas as associações dos
Açores.” Foram dados relatos de "falhas de energia na zona do Topo, em
São Jorge"."Cada ilha contou com pelo
menos um operador disponível, muitos com mais do que uma estação ativa, e
com canais diretos para entidades oficiais, como a Proteção Civil e os
bombeiros, através de estações na Terceira e no Faial", explicou o
representante, que fez a coordenação da rede na ocasião.Os radioamadores destacam a fiabilidade das suas comunicações, mesmo nas condições mais adversas. "Como
temos acesso a um largo espetro de frequências, conseguimos, a qualquer
hora do dia e com um pouco de fio, um equipamento ligado a uma bateria
de um carro, falar para qualquer parte do mundo ou para qualquer ilha a
partir de qualquer sítio, logo que tenhamos acesso a estes dois
equipamentos", referiu.Além das
comunicações de emergência, os radioamadores mantêm-se também ativos em
serviços de apoio diário, "mantendo vivo um espírito de entreajuda que,
em momentos de crise, pode fazer a diferença"."É
esse o nosso plano e compromisso", vincou o secretário da Associação de
Radioamadores dos Açores, recordando a amizade que ainda mantém com um
faroleiro na ilha das Flores, em 2019, que apoiou numa altura em que
"nas Lajes não havia nem telefone, nem internet, nada".