Queixas das telecomunicações à Deco sobem 30% em 2020 e lideram há 13 anos
3 de fev. de 2021, 10:27
— Lusa/AO Online
Em todo o ano passado, a Deco - Associação
Portuguesa para a Defesa do Consumidor recebeu 396.767 reclamações de
consumidores, mais 53 mil queixas do que no ano anterior, um aumento de
16% que fez subir a média diária, de 940 em 2019, para mais de mil por
dia em 2020.Os dados hoje divulgados pela
associação, além de colocarem o setor das telecomunicações novamente no
primeiro lugar das reclamações de consumidores, o que acontece desde
2007, mostram um aumento de 30% neste setor, superior à subida (de 16%)
do total de 37.723 queixas recebidas nesse ano pela associação, face ao
conjunto de 28.826 em 2019.Mas o maior
aumento foi o registado nas reclamações sobre turismo, que em 2019
ocupou o sexto lugar entre os mais reclamados à associação e subiu em
2020 para o terceiro lugar - a seguir às telecomunicações e à compra e
venda de bens de consumo (incluindo online) -, face ao aumento de 715%
registado entre 2020 (26.432 reclamações) e 2019 (3.243), e porque o
setor nunca tinha ultrapassado as 3.300 queixas num ano.A
Deco recebeu na sua linha de apoio ao consumidor turista 6.838 pedidos
de ajuda no ano passado, todas relacionadas com a pandemia, que a juntar
aos problemas com compras online, dificuldades com o reembolso de
bilhetes de espetáculos, concertos e festivais, pagamento de
mensalidades e outros serviços em creches e jardins-de-infância, taxas
cobradas nos serviços de saúde pelo uso de equipamentos de proteção
individual, somaram um total de 23.745 mediações da associação por causa
da pandemia. "O turismo foi em 2020 o
terceiro [setor] mais reclamado por causa das viagens organizadas",
canceladas ou adiadas devido à doença covid-19, explicou o coordenador
do departamento económico e jurídico da associação, Paulo Fonseca, à
Lusa, lembrando que, apesar do maior aumento de queixas ser no turismo, é
esperado que o problema da pandemia, que causou as reclamações, "não se
mantenha" no futuro, e se resolva.Por
essa razão, Paulo Fonseca revelou ainda mais preocupação - além das
queixas sobre telecomunicações - com a subida de 46% registada na compra
e venda de bens de consumo, de 22.366 queixas em 2019 para 32.866 em
2020, que colocaram estas compras e vendas no segundo lugar dos mais
reclamados no ano passado, em consequência da rápida transição digital
exigida pelo isolamento imposto para combater a pandemia."As
empresas não estavam preparadas para a mudança de hábitos dos
consumidores", afirmou Paulo Fonseca, referindo-se à necessidade comprar
online para evitar a propagação da doença covid-19.Tal
como o turismo, o setor dos transportes, em especial o aéreo, também
sofreu um aumento de queixas devido à pandemia, ao registar uma subida
de 3.928 queixas em 2019 para 11.507 no ano passado, ocupando o sexto
lugar dos mais reclamados, depois dos serviços financeiros e energia e
água.O reembolso de voos cancelados,
devido à pandemia, merecia mais empenho do regulador, segundo a Deco,
que defende que a Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) "devia
reforçar a fiscalização" porque não são cumpridos os direitos dos
consumidores que estão previstos em regulamentos europeus, que têm
aplicação direta a Portugal e dispensam leis nacionais de transposição."Muitas
situações [de reembolso de voos cancelados] a Deco não conseguir
resolver o conflito [com o transportador aéreo], mas o próprio
legislador [nacional] criou soluções que não foram as melhores, não
garantindo logo o reembolso (...) não tendo capacidade de proteger o
consumidor", defendeu o jurista da Deco.Os
serviços financeiros, com 24.618 reclamações em 2020 face a 27.035 no
ano anterior, desceram do segundo lugar dos mais reclamados em 2019 para
o quarto lugar este ano, a seguir ao turismo, estando os maiores
motivos de reclamação relacionados com o crédito ao consumo, crédito à
habitação e cartões de crédito (pagamentos, juros, informações sobre
contratos, comissões) e, nos seguros de saúde (comparticipações,
coberturas e exclusões), seguros de proteção ao crédito (situações de
desemprego e incapacidade) e seguro automóvel (atualizações de prémios).
As queixas de energia e água, num total
de 13.985 em 2020, subiram face às 11.056 de 2019 e ocuparam, no ano
passado, o quinto lugar dos mais reclamados, e em último lugar, então, o
setor dos transportes (a maioria aéreo) com 11.507 reclamações.A
associação, que diz ter conseguido resolver 80% dos conflitos com
consumidores que lhe chegaram no ano passado às mãos, nota ainda, quanto
a 2020, uma "mudança no tipo" de reclamação dos consumidores."Como
estão mais em casa [devido à pandemia], as reclamações centram-se mais
na casa, na energia com faturas que chegaram sem leitura durante o
confinamento, a qualidade de serviço das telecomunicações, uma maior
ligação ao dia a dia", afirma Paulo Fonseca.A
Deco conclui que "em muitos setores, foram os consumidores que pagaram a
última fatura dos prejuízos" e que foi por isso que reivindicou um
quadro mais protetor para os consumidores, em áreas como os Serviços
Públicos Essenciais, os Serviços Financeiros e a Habitação. "Com
o acentuar da crise económica é urgente adotar medidas que protejam os
consumidores, sobretudo nesta fase que o país atravessa", defende a
associação.