Quatro em dez alunos com necessidades especiais não têm apoio direto especializado
22 de jul. de 2022, 11:07
— Lusa/AO Online
A conclusão é de um inquérito feito pela Federação Nacional dos Professores
(Fenprof), que envolveu 80 agrupamentos de escolas, cerca de 10% do
total dos estabelecimentos de ensino.Entre
os mais de 89 mil alunos das escolas inquiridas, 5.544 beneficiam de
medidas seletivas ou adicionais e a maioria (81,7%) passa mais de 60% do
tempo letivo em sala de aula. O problema é que muitos não têm apoio
especializado.De acordo com os resultados
do inquérito, 40% dos alunos com necessidades especiais não têm qualquer
apoio direto do docente de educação especial, que apenas aconselha o
professor da turma.“Muitas vezes (o
docente de educação especial) não conhece o aluno em causa”, relata a
Fenprof, sublinhando que “este não é um apoio que respeite a
individualidade e as características específicas de cada aluno”.Noutros
casos, os alunos são apoiados por um segundo professor em coadjuvação
com o titular de turma ou até por assistentes operacionais que, segundo a
estrutura sindical, não têm formação adequada para esse efeito, “ainda
que alguns já tenham adquirido alguma experiência”.A
falta de profissionais especializados para a educação inclusiva é o
principal problema que, segundo os resultados do inquérito, as escolas
apontam no balanço que fazem dos quatro anos desde a implementação do
regime.A maioria dos agrupamentos (73,5%)
afirma que o número de assistentes operacionais para a educação especial
continua a ser insuficiente e 65,5% dizem que esses profissionais não
têm formação específica.Os diretores
referem ainda falta de terapeutas da fala, terapeutas ocupacionais e
psicólogos clínicos, além dos psicólogos educacionais que também são
insuficientes, e alguns apontam também a necessidade de enfermeiros
devido às necessidades especiais de saúde de alguns alunos.Quanto
aos docentes, a Fenprof refere que existe um número significativo de
professores que exerce atividade na educação especial, sobretudo entre
os não especializados, que estão colocados através do regime de
mobilidade por doença, recentemente alterado.“Com
as novas regras impostas, que impedem todos os que se encontram
colocados a menos de 20 quilómetros de requererem essa mobilidade, (os
agrupamentos) irão perder essa possibilidade de compensarem a falta de
docentes de educação especial, com prejuízo para os alunos apoiados”,
alerta a Fenprof.Outro aspeto avaliado no
inquérito está relacionado com as regras sobre a constituição das turmas
que integrem alunos com necessidades especiais e que não devem
ultrapassar o total de 20 alunos e dois nessa situação.Entre
as 6.911 turmas dos 80 agrupamentos inquiridos, 1.647 integram alunos
com necessidades especiais, mas só pouco mais de metade (56,6%) respeita
os dois critérios.Das restantes, a
maioria tem mais de 20 alunos e 14,3% falham em ambos, mas a Fenprof
considera que isso é resultado da falta de autorizações, por parte da
Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, para o desdobramento das
turmas.No geral, o inquérito conclui que
as escolas se dividem na avaliação que fazem do atual regime legal da
Educação Inclusiva: 51,4% dos agrupamentos consideram que é a resposta
adequada para todos os alunos, mas 48,6% consideram que não e há até
casos em que se mantém a estrutura de resposta anterior.