Quatro atletas anunciam mudança de vida para alertar para o plástico nos oceanos
8 de jun. de 2020, 10:59
— Lusa/AO Online
No âmbito da campanha "Num oceano ocupado por
plásticos nem os humanos têm lugar", promovida pelo canal televisivo
Discovery, o canoísta Fernando Pimenta, medalhado olímpico, fez uma
publicação a dizer que "já não existem mais condições" para praticar a
modalidade. O surfista Vasco Ribeiro
mostra-se preparado para "o novo desafio", de agente imobiliário, a
bodyboarder Joana Schenker, no papel de contabilista, lamenta ter
deixado de haver condições para fazer aquilo de que mais gosta e Miguel
Lacerda, desportista de mergulho, munido de equipamento de soldador,
manifesta as saudades "de quando era possível mergulhar nas mais baixas
temperaturas". Não sendo uma mensagem
verdadeira, "não é uma brincadeira", considera Fernando Pimenta, porque o
assunto é sério e é um problema com o qual muito se identifica, não
andasse o canoísta todos os dias em cursos de água, de onde assiste, na
primeira fila, ao resultado da "falta de civismo". O
impacto dos plásticos no mar, com animais a ficarem presos e a
ingerirem os detritos, ou a exposição da vida marinha a produtos
químicos, com que os humanos também têm contacto, através da cadeia
alimentar, relativizam os constrangimentos com que o atleta do Benfica
se depara. "Acontece apanhar sacas de
plástico no leme, ou pedaços de plástico que vêm a boiar e apanho esse
lixo no caiaque. Tenho de parar, remar para trás, para remover esse lixo
e poder voltar ao treino", descreve à agência Lusa o campeão do mundo
em K1 1.000 e 5.000 metros.Quando acontece, é uma situação que afeta a preparação. "Prejudica
o treino. Se estiver a simular uma série como se fosse ao ritmo de
competição, isso, para nós, é mau, interfere", explica Fernando Pimenta,
30 anos, habituado a ver pelos cursos de água onde passa garrafas,
embalagens de plástico, maços de tabaco, pneus e "todo o tipo de lixo". Por
vezes, mesmo nos rios onde mais treina, inclusive o Lima, na sua terra
natal, além deste tipo de poluição nota também vestígios de descargas,
quer através do mau cheiro, quer do aspeto gorduroso das águas.
"Felizmente", ainda não viu nenhuma máscara, um dos objetos que começa a
ir também parar aos oceanos. "Parece-me
evidente preservarmos o que é nosso. Não é preciso ir à escola aprender
isso. É uma coisa básica, um dever cívico", vinca o canoísta, para logo
lembrar a sensação agradável de quando rema e a transparência da água
permite ver o fundo do rio.Fernando
Pimenta recicla, reutiliza e foi essa mensagem que pensou transmitir a
um numeroso grupo de jovens que, perto do seu local de treino, em
Sevilha, bebia cerveja ao pôr-do-sol e no final atirava as garrafas ao
rio. Acabou por não os abordar, como não fez com as inúmeras famílias,
na Cidade do México, que, no final do piquenique, viu atirarem os
objetos descartáveis à água.A normalidade
com que o faziam deixou o atleta olímpico "muito chocado". Até porque,
afiança, no meio desportivo em que se move as pessoas são ambientalmente
responsáveis.Não levantou a voz em outras ocasiões e encontrou nesta campanha uma forma de o fazer. A
mensagem de que ia mudar de vida não convenceu a maioria que o segue
nas redes sociais. "Pelas reações, muitos perceberam que devia estar
relacionado com alguma campanha", conta o canoísta, medalha de prata na
prova de K2 1.000 em Londres2012, ao lado de Emanuel Silva. Com
este envolvimento pretende pedir que "todos tomemos conta do nosso
planeta" e espera que os comportamentos mudem a um ritmo mais rápido que
o que imprime na pagaia."Se calhar,
algumas pessoas só se vão aperceber quando forem comprar um peixe para
comer e lhes sair lá de dentro um pedaço de plástico", vaticina Fernando
Pimenta.