Quase quatro anos de prisão para português detido nos EUA por venda ilegal de espécies
26 de set. de 2017, 14:02
— Lusa/AO Online
No início do ano, Carlos Rafael, de 65 anos, tinha confessado a culpa
de 28 crimes, incluindo conspiração, incorreta classificação de peixe,
contrabando de dinheiro, fuga de impostos e falsificação de registros
federais. Minutos antes da sentença, Carlos Rafael levantou-se,
numa sala cheia com cerca de 40 familiares, amigos e funcionários, e
pediu que o seu advogado lesse uma declaração escrita por si. "[Isto]
foi a coisa mais estúpida que já fiz (…) Espero que não prejudique
ninguém na frente marinha. Eles não merecem isso", disse o açoriano
através do seu advogado. "Isto não foi estúpido. Isto foi
corrupto. Isto foi um conjunto de ações corruptas do princípio até ao
fim. Foi desenhado para o beneficiar. Para lhe encher os bolsos. Foi
isso que foi, e é por isso que este tribunal o sentencia da forma que o
faz", disse o juiz William Young.A leitura da sentença continua
hoje, enquanto o juiz tenta decidir o que fazer com as 13 licenças de
pesca de Rafael relacionadas com os crimes, que estão avaliadas entre 27
e 30 milhões de dólares (entre 23 e 26 milhões de euros). O juiz
tem dúvidas quanto a constitucionalidade de retirar todas estas
licenças ao empresário, e procura decidir quantas podem ser retiradas e a
quem caberá essa função.O presidente da Câmara de New Bedford,
John Mitchell, disse que o melhor para a cidade seria que toda a
operação de Rafael fosse vendida, para que continuasse em funcionamento e
postos de trabalho não fossem perdidos.Na semana passada, a
defesa de Carlos Rafael disse que os empresários Richard e Ray Canastra
tinham assinado um acordo de compra do negócio. O imigrante da
ilha do Corvo é dono de uma das maiores operações de pesca comercial do
noroeste americano, a Carlos Seafood Inc, e aguardava a leitura da
sentença em liberdade, depois de ter pago no ano passado uma caução de
um milhão de dólares (cerca de 930 mil euros).Agora, terá de se apresentar às autoridades a 06 de novembro para começar a cumprir pena. Segundo
a acusação, o empresário conhecido por 'codfather' (um trocadilho com
as palavras bacalhau e o título do filme Padrinho em inglês) mentiu
durante anos às autoridades sobre as quantidades e espécies de peixe
capturadas pela sua frota para contornar quotas de pesca sustentável.Rafael venderia depois o peixe por "sacos de dinheiro" a um vendedor por atacado de Nova Iorque.Ainda
segundo a acusação, o empresário usava compartimentos falsos para
transportar o peixe e usava rótulos errados para evitar as quotas. O
mesmo canal garante que a investigação ainda decorre e mais detenções
podem acontecer.A investigação, que envolveu o fisco dos EUA, os
serviços de investigação da Guarda Costeira e a Organização Nacional dos
Oceanos e Atmosfera, começou depois de Rafael colocar o seu negócio a
venda no ano passado.Quando dois agentes à paisana se fizeram
passar por potenciais compradores, o português confessou a sua operação
"fora dos cadernos".Em janeiro do ano passado, Rafael e a sua
contabilista explicaram o passo-a-passo da operação, a que se referiam
como "a dança", durante uma reunião com os falsos compradores.No
encontro, Carlos Rafael afirmou que tinha ganhado 668 mil dólares (cerca
de 614 mil euros). Os investigadores acreditam que parte do dinheiro
foi desviada para Portugal através do aeroporto de Boston.Neste
mesmo caso, António Freitas, vice-xerife do condado de Bristol, foi
condenado a 19 de julho por contrabando. A sua sentença será lida a 12
de outubro.Em agosto, James Melo, um capitão do gabinete do
xerife do condado de Bristol, em Massachusetts, tornou-se o terceiro
luso-americano, foi detido e acusado de contrabando para Portugal dos
lucros obtidos por Carlos Rafael no seu esquema de pesca ilegal.