Quando o Natal era sinónimo de figos passados e galochas na chaminé

Hoje 08:30 — Daniela Carreiro

Na Santa Casa da Misericórdia de Santo António na Lagoa, a quadra natalícia é celebrada tendo em conta todos os pequenos pormenores, tão característicos desta altura do ano.Nas duas semanas que antecedem o Natal, algumas utentes desta instituição têm o cuidado de confecionar os tradicionais licores de tangerina e de café que vão adornar  a mesa na consoada e dia de Natal.  Uma destas utentes é a Maria Rosa Ferreira, que no auge dos seus 81 anos, afirma tratar-se de uma quadra de alegria e de diversão.Recorda que durante a sua infância os seus pais, tinham também o cuidado de preparar os seus próprios licores e os biscoitos, afirmando que na mesa “havia sempre os carrilhos, as alfarrobas, figos passados, amendoins e  tremoços”. Recorda ainda, com ternura, o cuidado que tinham em limpar a chaminé  onde colocava uma galocha para que o Pai Natal levasse, e em troca deixasse os presentes. “Só anos mais tarde,  é que descobri que o meu avô ficava escondido e tocava a campainha. Pensávamos que era o Pai Natal!”Revive ainda a memória dos serões passados a cantar, enquanto o seu pai tocava flauta e um amigo de família acompanhava com a sua guitarra.Para Maria Rosa, apesar de não haver luxo “era uma altura de muito amor e de alegria”.Já Lisete, com 86 anos, recorda o Natal através do cuidado que tinha em preparar a sua casa para a quadra: “limpava a minha casa toda e decorava tudo. No dia preparava o jantar” e depois via os seus quatro filhos abrirem os presentes. Hoje em dia, admite que o Natal é uma altura de “relembrar o passado” um sinal de que teve “Natais muito felizes” ao lado dos seus entes queridos.No Lar de Santo António a maioria dos utentes permanece nas instalações durante a quadra natalícia, o que significa que o número de colaboradores  é o mesmo quando comparado a outras alturas do ano. Rita Pereira, é uma das enfermeiras que garante os cuidados de saúde durante as festividades. Há oito anos que trabalha na Santa Casa da Misericórdia de Santo António da Lagoa e é, também há oito anos que está de serviço durante a quadra natalícia. “Acaba por ser bom passar o Natal com os utentes porque acabamos por ser a família deles”.Admite que nesta altura do ano fecha “um bocadinho os olhos, porque um dia não são dias” e utiliza o sentido de humor de modo a amenizar o estado de espírito dos utentes, uma vez que, para alguns passar esta quadra longe de casa provoca algum transtorno. Para Tiago Almeida, diretor técnico, é fulcral manter o espírito natalício vivo através da adaptação das tradições desta quadra ao contexto da instituição, como é o caso da Missa do Galo. No Lar de Santo António, esta missa é celebrada na própria instituição, o que permite aos utentes com mobilidade mais reduzida cumprirem esta tradição. Há, igualmente, cuidado na confeção do jantar de Natal, “cumpre-se a tradição de ser bacalhau com todos (...) servimos o bolo de Natal e licores”, num espécie de manter viva a tradição do “Menino Mija” para todos os utentes.