Autor: Lusa/AO Online
"Estamos muito dececionados com os recentes acontecimentos no Afeganistão, que representam um retrocesso", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Mohammed ben Abderrahmane Al-Thani, durante uma conferência de imprensa em Doha, sugerindo ao novo Governo de Cabul para olhar para as práticas de poder usadas no seu país, que não deixam de respeitar a religião islâmica.
Al-Thani referia-se a diversos episódios recentes que revelam o espírito fundamentalista do novo Governo de Cabul, como quando, a 26 de setembro, os talibãs penduraram os corpos de quatro sequestradores em guindastes depois de os matar, na cidade de Herat, ou quando, na passada sexta-feira, uma manifestação de mulheres afegãs exigindo o direito à educação foi violentamente reprimida.
O Qatar tem desempenhado o papel de mediador entre o movimento radical que controla o Afeganistão desde 15 de agosto e a comunidade internacional, depois de já ter feito esse papel durante vários anos, acolhendo negociações entre os talibãs e os Estados Unidos, num acordo que acelerou a retirada de tropas estrangeiras.
De visita a Doha, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, também disse estar "dececionado" com as violações dos direitos humanos no Afeganistão.
"Queremos reorientar o Governo afegão", explicou Borrell, dizendo que a UE conta com o Qatar para usar a "sua forte influência" junto dos talibãs para encorajar o movimento islâmico a respeitar os direitos humanos.
Na terça-feira, os talibãs anunciaram que iriam adotar temporariamente a Constituição de 1964, que concede às mulheres afegãs o direito de voto, embora excluam elementos do texto contrários à sua interpretação da ‘sharia’, o sistema jurídico do Islão.
Sob o
anterior regime talibã, que dominou o Afeganistão entre 1996 e 2001, as
mulheres foram em grande parte excluídas da vida pública e não tinham
permissão para estudar ou trabalhar.