Qatar diz que “entre 400 e 500” trabalhadores morreram nas construções
Mundial2022
29 de nov. de 2022, 13:10
— Lusa/AO Online
De acordo com a Associated Press, as declarações de Hassan al-Thawadi,
secretário-geral do Comité Supremo para Entrega e Legado do Qatar, foram
feitas durante uma entrevista com o jornalista britânico Piers Morgan.Os
comentários de Al-Thawadi poderão aumentar as críticas feitas pelos
grupos de direitos humanos sobre o custo para os trabalhadores migrantes
do país sediar o primeiro Mundial de Futebol no Médio Oriente, quando
200 mil milhões de dólares (19,3 mil milhões de euros) foram gastos em
estádios, linhas de metro e novas infraestruturas necessárias para o
torneio.O Comité Supremo e o Governo do
Qatar ainda não responderam a um pedido de comentário feito pela AP
sobre as declarações de Al-Thawadi.Na
entrevista - em trechos já publicados por Piers Morgan na internet -, o
jornalista britânico pergunta a Al-Thawadi: "Qual é o número honesto,
totalmente realista de trabalhadores migrantes que morreram, como
resultado do trabalho que estão a fazer para o Mundial de Futebol, na
totalidade?”.“A estimativa é de cerca de 400, entre 400 e 500”, respondeu Al-Thawadi. “Não tenho o número exato. Isso é algo que tem sido discutido", referiu o responsável.Entretanto,
esse número não foi anteriormente discutido publicamente. Os relatórios
do Comité Supremo datados de 2014 até ao fim de 2021 incluem apenas o
número de mortes de trabalhadores envolvidos na construção e reforma dos
estádios que sediam o Mundial de futebol.
O número total de mortes divulgado pelo Governo do Qatar foi de 40.
Estes dados incluem 37 que as autoridades locais descrevem como
incidentes não relacionados com trabalho, como ataques cardíacos, e três
de incidentes no local de trabalho. Num outro relatório também surge
separadamente a morte de um trabalhador devido ao novo coronavírus
durante a pandemia de covid-19. Desde que a
FIFA concedeu o torneio ao Qatar em 2010, o país tomou algumas medidas
para reformular as práticas de emprego. Isso incluiu a eliminação do
chamado sistema de emprego ‘kafala’, que prendia os trabalhadores aos
seus empregadores, que podiam decidir se os funcionários poderiam deixar
os seus empregos ou até mesmo o país. O
Qatar também adotou um salário mínimo mensal de 1.000 riais do Qatar
(275 dólares ou 265 euros) para os trabalhadores e exigiu subsídios de
alimentação e moradia para funcionários que não recebem esses benefícios
diretamente dos seus empregadores. Também atualizou as suas regras de
segurança para os trabalhadores para evitar mortes. “Uma morte é uma morte a mais. Puro e simples”, acrescentou Al-Thawadi na entrevista.
Ativistas pediram a Doha que faça mais, principalmente quando se trata
de garantir que os trabalhadores têm os salários em dia e são protegidos
de empregadores abusivos. O comentário de
Al-Thawadi também renova as questões sobre a veracidade dos relatórios
de Governos e das empresas privadas sobre ferimentos e mortes de
trabalhadores nos Estados do Golfo Pérsico, cujos prédios foram
construídos por trabalhadores de países do sul da Ásia, como Índia,
Paquistão e Sri Lanka. Mustafa Qadri,
diretor executivo da Equidem Research, uma consultoria sobre trabalho
que publicou relatórios sobre o custo da construção para os
trabalhadores migrantes, disse que ficou surpreso com a observação de
al-Thawadi. “Para ele, vir agora e dizer
que há centenas [de mortos], é chocante. Eles não têm ideia do que está a
acontecer”, declarou Qadri à AP.