Puigdemont pede amnistia no caso do 'Tsunami Democrático'
4 de jul. de 2024, 12:02
— Lusa/AO Online
"Não
parece que possa existir qualquer dúvida racional sobre a subsunção do
relato dos factos deste processo no âmbito objetivo do artigo 1.º da
lei", indica o seu advogado Gonzalo Boye, num documento a que a agência
espanhola Europa Press teve acesso, no qual também assinala que não há
motivo para exclusão.Em 11 páginas, Boye
explica ainda que "qualquer outra interpretação implica uma deturpação
da lei e um forçar tanto da 'voluntas legislatoris' como da 'voluntas
legis'".A defesa alega que Puigdemont não provocou intencionalmente graves violações dos direitos humanos.Em
causa está um processo relacionado com distúrbios na Catalunha em 2019,
incluindo um bloqueio do aeroporto da região, pelo movimento
autodenominado ‘Tsunami Democràtic’.O Supremo Tribunal espanhol considera estarem em causa possíveis crimes de terrorismo que Puigdemont poderá ter incentivado.O
ex-presidente da ‘Generalitat’ protagonizou a declaração unilateral de
independência da Catalunha em 2017 – conhecida como ‘procés’ - e vive
desde então na Bélgica para fugir à justiça espanhola. Nas eleições
regionais da Catalunha, antecipadas para maio, o seu partido, Juntos
pela Catalunha (JxCat), ficou em segundo lugar.Para
a defesa de Puigdemont, tem havido "muita especulação e abuso" do
acontecimento que teve lugar no dia da manifestação ‘Tsunami Democràtic’
que bloqueou o aeroporto de El Prat e na qual morreu um homem de origem
francesa. "Seja como for, este
acontecimento, que nada tem a ver com a manifestação, não pode ser
qualificado como intencional ou causado por alguém específico, mas sim
pelas circunstâncias e condições médicas do falecido", refere.Quanto
à imputação do crime de terrorismo, o advogado considera que, neste
caso, "os factos (...) não podem ser enquadrados naquilo que a Diretiva
Europeia estabelece como objetivos terroristas, nos termos do artigo
3.º”."Alegar algo diferente, sobre factos
que são públicos e notórios, não é mais do que a criminalização do
exercício de direitos fundamentais", aponta, aludindo às manifestações
que ocorreram após a sentença dos 'procés' em 2019.Assim,
a defesa insiste que é adequado "declarar amnistiados os factos pelos
quais Puigdemont está a ser investigado" e, por isso, pede o
arquivamento e a extinção da eventual responsabilidade penal que se
pretendia atribuir-lhe neste processo.Além
disso, recorda que o Ministério Público da Audiência Nacional já se
pronunciou sobre o assunto, declarando que "os factos se enquadram
claramente no âmbito de aplicação da referida lei, mais conhecida como
lei da amnistia".No final de maio, o
parlamento espanhol aprovou a amnistia para separatistas da Catalunha
condenados ou procurados pela justiça por causa da tentativa de
autodeterminação da região que culminou com um referendo ilegal e uma
declaração unilateral de independência em 2017.A
amnistia foi uma exigência dos partidos independentistas Esquerda
Republicana da Catalunha (ERC) e Juntos pela Catalunha (JxCat), para
viabilizarem o atual Governo do socialista Pedro Sánchez, em novembro
passado.