Puigdemont assegura que não fugiu e assume intenção de ser candidato nas eleições
3 de nov. de 2017, 19:26
— Lusa/AO online
"Estou disposto a ser
candidato, incluindo mesmo do estrangeiro", referiu o político catalão
numa entrevista à televisão pública francófona RTBF que será transmitida
na íntegra hoje à noite. O presidente do governo catalão
destituído, que também salientou que está na Bélgica a preparar a sua
defesa, acrescentou: "Há eleições no dia 21 de dezembro. Esperamos que
possam decorrer da maneira mais normal possível. Não é com um governo na
prisão que estas eleições podem ser neutrais, independentes, normais". Puigdemont
viajou para Bruxelas no início desta semana após o governo central de
Madrid ter decidido a destituição dos 14 membros que compunham o
executivo regional da Catalunha (Generalitat). "Não fugi, mas era
impossível preparar-me bem [para a respetiva defesa]", disse
Puigdemont, referindo que deseja comparecer diante dos juízes mas
"perante a verdadeira justiça [na Bélgica] e não perante a justiça
espanhola". No excerto avançado pela estação de televisão, o
ex-presidente do governo catalão assegurou que viajou para a Bélgica
para evitar uma onda de violência e salientou que "a violência nunca foi
uma opção" para as forças políticas que convocaram o referendo sobre a
independência da Catalunha no passado dia 01 de outubro. Sobre a
sua presença no território belga, Carles Puigdemont afirmou também que
não deseja misturar a política belga com as questões políticas catalãs,
esclarecendo ainda que não se encontrou com responsáveis políticos
belgas. "O que queremos obter de Espanha é reconhecimento,
respeito", concluiu o político catalão que não compareceu na
quinta-feira, a par de outros quatro ex-ministros do executivo catalão, a
uma audição na Audiência Nacional (tribunal especial que tem jurisdição
em todo o território de Espanha) em Madrid para prestar declarações. Na
quinta-feira, o Ministério Público espanhol pediu à Audiência Nacional
para emitir um mandado europeu de detenção contra Carles Puigdemont. Puigdemont
deu esta entrevista no mesmo dia em que plataforma independentista
Assembleia Nacional Catalã (ANC) convocou uma ação de protesto em frente
ao edifício da Comissão Europeia em Bruxelas para contestar a detenção
de metade do governo catalão destituído. Esta concentração foi
convocada em apoio ao ex-vice-presidente da Generalitat Oriol Junqueras e
de outros sete ex-membros do governo catalão que estão desde
quinta-feira, por deliberação da juíza da Audiência Nacional responsável
pelo dossiê catalão, em prisão preventiva. Ao ex-ministro
regional Santi Vila, que se tinha demitido do cargo poucas horas antes
de ao governo regional da Catalunha ter sido destituído, por decisão do
Governo espanhol de Mariano Rajoy, foi-lhe imposta uma medida de coação
que lhe dá a possibilidade de pagar 50.000 euros e esperar o julgamento
em liberdade. Os ex-membros do governo regional da Catalunha
estão a ser acusados dos delitos de rebelião, sedição e desvio de
fundos, arriscando-se a penas que poderão ir até 30 anos de prisão. O
parlamento regional da Catalunha aprovou na passada sexta-feira a
independência da região, numa votação sem a presença da oposição, que
abandonou a assembleia regional e deixou bandeiras espanholas nos
lugares que ocupava. No mesmo dia, o executivo de Mariano Rajoy,
do Partido Popular (direita), apoiado pelo maior partido da oposição, os
socialistas do PSOE, anunciou a dissolução do parlamento regional, a
realização de eleições em 21 de dezembro próximo e a destituição de todo
o governo catalão, entre outras medidas.