PS propõe que vítimas de violação tenham um ano para apresentar queixa
30 de mar. de 2023, 11:32
— Lusa/AO Online
O
parlamento discute na quinta-feira cinco projetos de lei relativos ao
crime de violação, em que quatro deles defendem a consagração como crime
público para o crime de violação e outros crimes contra a liberdade
sexual. Em causa estão projetos de lei do
Bloco de Esquerda (BE), Chega, partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) e
Iniciativa Liberal (IL), além de uma petição, que reuniu mais de 107 mil
assinaturas pela “Urgência em legislar no sentido da conversão do crime
de violação em crime público”.O projeto
de lei do PS, por outro lado, defende que o crime de violação se
mantenha como crime semi-público, sublinhando que a opção do legislador
foi no sentido de valorizar a autonomia da vítima em relação às opções
sobre as respostas de que necessitam depois da ocorrência do crime.O
PS entende “que ainda é possível contribuir para uma melhoria das
normas penais relativas aos crimes contra a liberdade sexual” e propõe o
alargamento do prazo durante o qual é possível apresentar queixa dos
atuais seis meses para um ano.Por outro
lado, defende a criação de uma “via verde” no acesso ao direito,
“dispensando as vítimas da prova da insuficiência económica”, à
semelhança do que já acontece com as vítimas de violência doméstica.A
consagração como crime público da violação tem a discordância da
Associação de Mulheres Contra a Violência (AMCV), para a qual a
estratégia deve ser de proteção das vítimas e a manutenção como crime
semi-público, defendendo que “não é ético” avançar com leis quando não
há serviços na comunidade.“E o que
acontece é que as mulheres são atiradas para os tribunais e para os
serviços sem que os profissionais saibam muitas vezes o que estão a
fazer e não criámos a rede especializada”, apontou a presidente da
associação.Segundo Margarida Medina
Martins, à semelhança do que acontece com a violência doméstica, há uma
rede de serviços, mas ainda não foi possível estabilizar os modelos de
intervenção e nem todas os técnicos têm os mesmos referenciais de
intervenção.Na opinião da responsável, a
violação como crime público não beneficia as vítimas e penaliza-as
duplamente, já que ficam “mutiladas pelo violador”, e “abandonadas pelos
serviços” e pelo sistema, que “é persecutório, não é apoiante e é
ignorante”.A presidente da AMCV apontou,
por outro lado, que o alargamento do direito de denúncia tem de ser
diferente do direito de perícia, defendendo que sejam feitas perícias
médico-legais independentemente de a vítima querer ou não apresentar
queixa.