PS e PSD isolados em mudar debates com PM de quinzenais para de dois em dois meses
21 de jul. de 2020, 10:42
— Lusa/AO Online
No texto
de substituição apresentado no grupo de trabalho que está a debater
as alterações ao regimento, foi a proposta do PS a base da discussão,
com o PSD a dizer que se revê no texto dos socialistas e considerando
que é semelhante à dos sociais-democratas em termos de regularidade da
presença do primeiro-ministro no parlamento.A
proposta do PS admite que o primeiro-ministro só vá ao parlamento para
responder a questões dos deputados sobre política geral de dois em dois
meses, enquanto a do PSD propunha que se realizassem quatro sessões
anuais deste tipo, em meses fixos.No texto
de substituição que será votado ainda hoje, e que neste ponto deverá
ser aprovado apenas com votos favoráveis de PS e PSD, define-se que “o
governo comparece pelo menos mensalmente para debate em plenário com os
deputados para acompanhamento da atividade governativa.”.No
entanto, este debate mensal desenvolve-se em dois formatos alternados: o
primeiro é sobre política geral e conta com presença obrigatória do
primeiro-ministro e o segundo, sobre política setorial, tem intervenção
inicial do ministro com responsabilidade sobre a área governativa sobre a
qual incide o debate, “tendo o primeiro-ministro a faculdade de estar
presente”.Ou seja, na prática, o
primeiro-ministro só comparece obrigatoriamente no parlamento para
responder a perguntas sobre política geral de dois em dois meses.Durante
o debate, o BE falou em “desgraduação e tentativa de docilizar o
parlamento”, enquanto CDS e IL manifestaram “indignação” e acusaram PS e
PSD de falta de explicação destas propostas. com o deputado único João
Cotrim Figueiredo a apelar à sua retirada e Telmo Correia a advertir que
este tipo de medidas alimenta o populismo.O
PCP manifestou-se igualmente contra a alteração do modelo, apesar de
admitir “uma certa banalização do debate quinzenal”, enquanto o PAN
manifestou oposição a "um fato à medida do bloco central" e a deputada
não inscrita Joacine Katar Moreira considerou “uma vergonha que PS e PSD
estejam unidos para silenciar e reduzir o debate”.Pelo
PSD, a deputada Catarina Rocha Ferreira negou que o partido queira
acabar com os debates com o Governo, “seja com o primeiro-ministro ou
com outros ministros”.“Não haverá outros
instrumentos mais eficazes de fiscalizar o Governo?”, questionou,
apontando o trabalho em comissão ou instrumentos como as perguntas e
requerimentos. Pelo PS, o deputado e
coordenador do grupo de trabalho, Pedro Delgado Alves, apenas apresentou
a proposta sem fazer qualquer apreciação política.Pelo
Bloco, José Manuel Pureza criticou o presidente do PSD, Rui Rio, por
justificar a proposta “que o Governo em vez de andar em debates devia
era trabalhar”.“É uma interpretação muito
esdrúxula da democracia parlamentar”, considerou, apontando que estas
propostas de PS e PSD são “um eco tardio do susto que o bloco central”
terá apanhado com a “nova centralidade” do parlamento.O
deputado do PCP António Filipe foi menos crítico, considerando que até
era possível fazer “um balanço desapaixonado” do modelo de debates
quinzenais que vigora desde 2008, mas, apesar de alguns defeitos,
considerou que não se justifica a sua alteração.O
deputado único da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo,
classificou a alteração como “um verdadeiro escândalo” e falou mesmo de
um plano para instalar “o unanimismo e paz podre” na sociedade
portuguesa.“Construtivamente, apelo a que
retirem a proposta”, disse, num repto que, não teve, por enquanto eco
por parte das bancadas do PS e do PSD.Na
mesma linha, o líder parlamentar do CDS-PP, Telmo Correia, disse
“escapar à sua compreensão” a razão de ter sido o maior partido da
posição, o PSD, a lançar o tema, e considerou que a mesma rompe “com uma
prática do PS”.“Vai cavar mais um fosso
entre cidadãos e políticos, será mau para a democracia e um favor ao
populismo”, criticou, levando a um pedido de defesa da honra da
social-democrata Catarina Rocha Ferreira quanto ao líder Rui Rio.“Um
regime democrático saudável baseia-se em fiscalização participativa,
não podemos acompanhar um fato à medida do bloco central”, corroborou a
líder parlamentar do PAN, Inês Sousa Real.