PS e PSD concordam em consagrar direito à alimentação mas sociais-democratas deixam alertas
Constituição
6 de abr. de 2023, 07:25
— Lusa/AO Online
Na
reunião da Comissão Eventual para a Revisão Constitucional foram hoje
debatidas duas propostas sobre alimentação, com o PS a querer consagrar
na lei fundamental que “todos têm direito a uma alimentação acessível,
de qualidade, saudável e sustentável, incumbindo ao Estado, em
articulação com as autarquias locais, promover as políticas públicas
necessárias à sua efetivação”. O Livre
quer inscrever no texto constitucional que “todos têm direito ao acesso
regular à alimentação e nutrição adequadas” e que cabe ao Estado “adotar
medidas legislativas, administrativas e orçamentais que combatam a fome
e a insegurança alimentar”, “garantir a não discriminação no acesso à
alimentação” e ainda “garantir que a produção agrícola, industrial e o
sistema comercial asseguram o acesso a produtos alimentares de
qualidade, com respeito pelo equilíbrio ecológico dos ecossistemas”. No
debate, o deputado do PS Pedro Delgado Alves – partido que juntamente
com PSD perfaz os dois terços necessários a qualquer alteração à
Constituição - defendeu que “a alimentação adquiriu uma centralidade nas
políticas públicas nos últimos anos que não deve permanecer alheia do
texto constitucional”.Emília Cerqueira, do
PSD, reconheceu “a bondade” das propostas e defendeu a importância de
consagrar este direito na Constituição, mas deixou alguns avisos e pediu
cautela na formulação da matéria.Sobre a
proposta do PS, a social-democrata questionou: “à medida que os sistemas
vão mudando, até que ponto é que o Estado tem condições para garantir
todos estes predicados na alimentação, para a alimentação básica que
muitas vezes nem isso conseguimos garantir?”. Quanto à proposta do Livre, a deputada também alertou para uma difícil concretização.Pelo
Chega, o deputado Rui Paulo Sousa mostrou-se favorável a ambas as
propostas, ao contrário de João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa
Liberal, que alertou para artigos que “sinalizam virtudes” - uma vez que
ninguém pode negar que há um direito à alimentação - mas que depois
“são vazios”. “Estamos a introduzir
direitos que muito dificilmente vão ter cumprimento constitucional
pleno”, avisou, dizendo que não encara estes artigos “com simpatia”.Duarte
Alves, do PCP, mostrou abertura a estas propostas e deixou uma ‘farpa’
ao PS, dizendo que os comunistas têm insistido no controlo de preços no
contexto atual de inflação, precisamente para garantir o acesso a bens
alimentares. O líder parlamentar do BE,
Pedro Filipe Soares, manifestou-se favorável às iniciativas e salientou
que há várias formas de materializar um direito constitucional,
alertando apenas que “nem todas a autarquias locais têm a mesma
capacidade de financiamento”. Inês Sousa
Real, do PAN, posicionou-se a favor e aproveitou para lembrar que o
direito à alimentação vegetariana nas escolas e cantinas públicas
consagrado na lei “ainda não está plenamente garantido”.O
deputado único do Livre, Rui Tavares, mostrou-se disponível para
simplificar a sua proposta mas defendeu que o seu texto pode ter mais
valor do que a “proposta enxuta” do PS.Na
passada terça-feira a reunião da comissão durou metade do tempo previsto
devido à ausência dos deputados únicos do PAN e do Livre e de pedidos
cruzados de adiamentos de artigos pelas várias bancadas, o que motivou a
marcação de uma reunião de Mesa e coordenadores para gestão dos
trabalhos esta quarta-feira.Os deputados
acordaram em manter o objetivo de discutir cinco artigos por reunião e
que os adiamentos têm de ser pedidos com 48 horas de antecedência, sendo
que apenas os partidos com propostas podem fazer este pedido.Ficou
também decidido que além das reuniões habituais de terças e quartas,
caso seja necessário, pode ser marcada uma vez por mês uma reunião
extraordinária à sexta-feira à tarde. Nesta
primeira fase, os partidos apresentam as propostas e manifestam a sua
orientação relativamente às das restantes forças políticas, mas só na
próxima sessão legislativa – e após realização de audições – haverá uma
segunda leitura dos artigos, já com votações.Esta é a 12.ª vez que o parlamento desencadeia um processo de revisão constitucional, mas apenas sete foram concluídos.