Próximo governo vai herdar economia complicada e terá de fazer escolhas
Reino Unido
3 de jul. de 2024, 12:45
— Lusa/AO Online
Nos últimos meses,
houve sinais de melhorias da economia britânica, embora ainda não sejam
sentidas pelos eleitores, após anos de adversidades e contenção. Os
números oficiais mostram que a economia cresceu 0,7% no primeiro
trimestre do ano em relação ao período de três meses anterior, mais do
que a maioria das principais economias, e a inflação desceu para 2% em
maio, o nível mais baixo desde julho de 2021. Os
preços da energia também caíram e o desemprego, 4,4% em abril, continua
baixo relativamente a países europeus. Os salários continuam a crescer,
levando o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, a apregoar que o
país "virou a esquina" em termos económicos.Mas,
tendo em conta a inflação, os salários reais estão ao nível de 2010,
dizem os economistas, e a carga fiscal é a mais alta desde 1948.Apontado
como uma das principais preocupações pelos eleitores, o sistema público
de saúde, o NHS, apresenta listas de espera recorde.De
acordo com os últimos dados do NHS, 7,57 milhões de operações não
urgentes, como operações a cataratas ou joelhos, estão em lista de
espera, quase três vezes mais (2,6 milhões) do que quando o conservador
David Cameron ganhou as eleições em maio de 2010.O
aperto na despesa pública afetou outros serviços públicos, como as
autarquias, com o financiamento do governo a encolher 40% entre 2010 e
2020.O número de bibliotecas públicas, por
exemplo, diminuirá quase 20% entre 2010 e 2020, segundo o instituto
britânico Cipfa, especializado em finanças públicas.Durante estes 14 anos, a pobreza infantil aumentou, mas os reformados foram protegidos por uma série de medidas do governo. A
perda do poder de compra é refletida pela proliferação de bancos
alimentares, que quase não existiam no Reino Unido início da década de
2000.A Trussell Trust, a maior rede de
bancos alimentares do país, que gere 1.699 centros, mais do que
hospitais em todo o país, contabilizou mais pelo menos 1.172 pontos
independentes.Uma "década e meia de
estagnação" e uma "combinação tóxica de crescimento lento e desigualdade
elevada", é como o centro de estudos Resolution Foundation resume os
últimos 14 anos.A crise financeira de 2008
levou a um aumento do défice e da dívida pública. Controlados pela
política de austeridade nos anos 2010, voltaram a deteriorar-se nos
últimos quatro anos devido aos apoios públicos durante a pandemia e o
aumento do preço da energia.Atualmente, a
dívida situa-se em cerca de 98% do Produto Interno Bruto (PIB), níveis
que não se verificavam desde o início da década de 1960.Os
compromissos, tanto dos conservadores e trabalhistas, em reduzir a
dívida pública nos próximos anos levaram os analistas a acusar os dois
principais partidos de uma "conspiração de silêncio" e de não serem
honestos com os eleitores."Independentemente
de quem assumir o cargo após as eleições gerais, terá, a menos que
tenha sorte, uma escolha difícil", afirmou o diretor do respeitado
Instituto de Estudos Fiscais, Paul Johnson, depois de analisar os
programas eleitorais, que acusou ambos de 'conspiração de silêncio'.Os
partidos vão ter de "aumentar os impostos para mais do que nos disseram
no seu manifesto", "fazer cortes em alguns domínios da despesa" ou
"pedir mais empréstimos e contentar-se com o aumento da dívida durante
mais tempo", segundo este economista.