Autor: Lusa/AO Online
“Temos que atuar já. Para o novo Governo que tomar posse [após as eleições legislativas], esta tem de ser uma matéria de fundo a ser tratada”, disse à Lusa Sandra Ribeiro, presidente da CIG, a propósito do aumento da difusão, em várias plataformas da Internet, de conteúdos machistas, misóginos e incitadores de violência sobre as mulheres.
Para a responsável do organismo nacional responsável pela promoção e defesa da igualdade entre homens e mulheres, este é “um dos temas com importância nacional suficiente para estar a ser discutido” na campanha eleitoral.
“É preciso não esquecer que o vídeo da rapariga supostamente a ser violada por três rapazes esteve a passar vários dias nas redes sociais, foi visto pelo menos por 32 mil pessoas e ninguém fez queixa”, critica, referindo-se ao caso da alegada violação de Loures por três ‘influencers’.
“Isto não pode acontecer. É normalizar tudo o que é profundamente negativo, profundamente selvagem e não é a sociedade que queremos em pleno século XXI”, sublinha.
Sandra Ribeiro alerta que existe uma “crescente voz masculina muito tóxica no sentido de que o lugar das mulheres é em casa, de ‘vamos voltar a tomar o poder’, ‘mulher que é minha não sai, não se comporta desta ou daquela maneira’”.
“Isto é um sintoma de algo”, sustenta.
Para a responsável, este “é o desafio da década”.
Sandra Ribeiro não duvida da influência destes discursos na sociedade, sobretudo quando “os jovens passam horas infinitas nas redes sociais, a consumir ‘TikToks’ e eventualmente outras redes” que os adultos desconhecem.
“Muitas das pessoas com este discurso apresentam-se como jovens milionários, deslocam-se em carros de alta cilindragem, fazem mentorias para os outros ficarem cheios de sucesso e apresentam-se numa posição de superioridade face às mulheres. Obviamente que isto influencia”, assegura.
Por outro lado, há “um acesso muito fácil à pornografia por parte dos adolescentes” e “se um jovem com 11 ou 12 anos já consegue ter acesso, vai ficar com uma ideia completamente deturpada das relações sexuais, de namoro, da forma como se relacionar”.
A CIG apela a uma “narrativa coletiva de tolerância zero à violência contra as mulheres ‘online’”, num esforço coletivo de união social.
“Precisamos de não encolher os ombros ou acharmos que não é connosco”, defende.
As escolas “têm de estar muito atentas e capacitadas”, mas também são precisos “meios institucionais fortes e eficientes”, nomeadamente para que “as pessoas saibam a quem fazer queixa, para imediatamente haver uma atuação”.
“Precisamos também da área artística, do desporto, de quem tem visibilidade pública, para dar a cara por esta matéria”, afirma, frisando que “regular é “fundamental”.
A União Europeia aprovou em 2024 uma diretiva para criminalizar e ciberviolência, estipulando o prazo de 2027 para a transposição para as legislações dos estados-membros.
“Não temos esse tempo. Se só conseguirmos resolver o problema em 2027, quando chegarmos lá já aconteceram imensas desgraças e os problemas vão ser outros”, afirma.
A presidente da CIG defende igualmente “um trabalho com as empresas da tecnologia e com as empresas que são donas destas plataformas digitais” para, “se possível, estabelecer acordos voluntários” tendo em vista uma regulação e “um maior controlo e um dispositivo eficiente que rapidamente detete o problema e o possa eliminar”.
“Se não conseguirmos regular, vamos perder completamente o controle sobre o que é visto, o que é feito”, afirma.
A presidente da CIG lembra “estudos que vão apontando para o facto de os rapazes desistirem mais cedo da escola, de estarem com uma posição mais conservadora sobre em quem votariam, e mais chegados à extrema-direita”.
“Há um fosso que está a ficar mais profundo entre rapazes e raparigas”, o que é grave.