Proteção Civil dos Açores admite demora nas evacuações médicas de 02 de fevereiro de 2017

O presidente do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (SRPCBA), Carlos Neves, admitiu esta sexta feira que as duas evacuações médicas, quase simultâneas, de 02 de fevereiro de 2017 poderiam ter sido respondidas com maior rapidez.


Autor: AO Online/ Lusa

“Tudo correu na perfeição? Não. Demorámos muito tempo a tomar a decisão”, disse, ressalvando que o “caso clínico mais grave foi evacuado primeiro”.

Carlos Neves falava numa audição conjunta com o secretário regional da Saúde, na Comissão de Política Geral da Assembleia Legislativa dos Açores, em Angra do Heroísmo, a pedido do PSD, devido a suspeitas de interferência da presidente do conselho de administração do Hospital da Ilha Terceira, Olga Freitas, na decisão de socorrer por via aérea dois doentes.

A situação ocorreu a 02 de fevereiro de 2017 e foi denunciada pelo Diário dos Açores a 07 de agosto deste ano. No mesmo dia o presidente do Governo Regional decidiu abrir um inquérito “urgente”.

A Proteção Civil dos Açores terá recebido nesse dia dois pedidos de evacuação de doentes quase em simultâneo: um de uma criança de 13 meses com uma depressão respiratória num contexto de convulsão febril na ilha Graciosa e outro de uma jovem de 20 anos com um traumatismo cranioencefálico em São Jorge.

A coordenadora dos médicos reguladores do Suporte Imediato de Vida (SIV), que tal como a reguladora de serviço rejeitou ser ouvida em comissão, denunciou uma alegada interferência da presidente do conselho de administração do Hospital da Ilha Terceira na decisão, numa carta enviada ao presidente da Proteção Civil dos Açores, mas a secretaria regional da Saúde terá decidido que não haveria motivo para avançar com um inquérito.

Segundo a coordenadora, a médica reguladora decidiu que seria feita uma retirada conjunta dos dois doentes, alegando que apresentariam níveis de gravidade semelhantes, mas, após pressões da diretora do Hospital da Ilha Terceira, terá sido dada prioridade à doente de São Jorge, que era familiar de Olga Freitas.

A Força Aérea acabou por socorrer primeiro a doente de São Jorge, levando-a para São Miguel, onde existe o serviço de neurocirurgia, fazendo posteriormente uma segunda viagem entre a Graciosa e a ilha Terceira para transportar a bebé de 13 meses.

Carlos Neves reconheceu que a Proteção Civil demorou “bastante mais tempo do que seria expectável a acionar os meios aéreos”, alegando que, apesar de existir apenas um helicóptero para fazer duas evacuações com pedidos quase simultâneos, deveriam pelo menos ter preparado os meios para serem ativados.

“Talvez nessa noite não tivéssemos sido o mais eficientes que pudéssemos ter sido, mas fomos eficazes”, reconheceu.

O presidente da Proteção Civil disse ter tido conhecimento das queixas de alegada interferência da administradora do Hospital da Ilha Terceira naquela noite, tendo recebido posteriormente uma carta da coordenadora dos médicos reguladores.

Carlos Neves terá então pedido um parecer jurídico, que entendeu que “era matéria fora do normal que merecia ser investigada”, mas o serviço não tinha competência para abrir um inquérito e por isso encaminhou o caso para a Secretaria Regional da Saúde.

Apesar de a tutela não ter aberto um inquérito na altura, o presidente da Proteção Civil disse que foram realizadas várias reuniões depois do incidente para “evitar constrangimentos”, salientando que a comunicação melhorou, que “as evacuações estão cada vez mais rápidas” e que as 400 intervenções realizadas desde fevereiro de 2017 decorreram sem problemas.

Também ouvido na comissão, Rui Bettencourt, responsável da unidade de evacuações aéreas, que está sediada no Hospital da Ilha Terceira, disse não ter conhecimento de situações de interferência de administradores nas decisões, alegando que só conheceu este caso pela comunicação social.

Segundo Rui Bettencourt, a clínica que acompanhou a evacuação médica terá sido chamada inicialmente para fazer a evacuação conjunta e só posteriormente terá sido decidido transferir primeiro o doente de São Jorge, que teria “mais gravidade”, para o hospital de São Miguel.

“O que ela me disse é que os pais da criança da Graciosa terão dito que não queriam ir para São Miguel, porque teriam familiares na Terceira”, adiantou.

De acordo com o responsável da unidade, o transporte de vários doentes no mesmo helicóptero não é comum, mas teria sido exequível neste caso.