Proposta só com aval dos trabalhadores e sem “mochila de passivo”
9 de out. de 2025, 09:38
— Nuno Martins Neves
O consórcio Newtour/MSAviation apenas apresentará uma proposta ao júri
do concurso de privatização da Azores Airlines se chegar a acordo com os
trabalhadores, se o passivo da empresa não for incluído no negócio, e
se houver mudança do modelo de negócio. Estas foram as condições
referidas por Carlos Tavares, antigo líder da Stellantis e parte
integrante do consórcio, em entrevista ao jornal online Observador.O
antigo responsável pelo sexto maior produtor automóvel do mundo
considera que a Azores Airlines tem condições para ser rentável, mas
alerta que as condições existentes em 2022, quando o processo de
privatização se iniciou, e as atuais, são bastante distintas, apontado
para uma degradação acentuada da empresa a partir de 2024.“É
importante é explicar as diferenças entre 2022 e 2024. O princípio do
processo foi em 2022 e desde 2024, aquilo tem estado a afundar
fortemente. O período do Luís Rodrigues foi um período positivo, em que
aquilo começou a andar na boa direção. Depois ele foi para a TAP. O que
está à vista hoje é que os resultados de 2024 são bem piores que 2022. E
estamos perante esta situação a que os ingleses chamam de falling
knife, apanhar uma faca que está a cair. Pode cortar a mão. Estamos a
tentar, a todo o custo, compreender a que velocidade aquilo está a cair,
para poder apanhar a faca. E depois temos de decidir se fazemos
proposta ou não”, afirmou ao Observador. Carlos Tavares diz que a
apresentação de uma proposta terá de ser sempre com os trabalhadores e
não contra eles, pelo que define como linha vermelha chegar a acordo com
os sindicatos.“Neste momento, o ponto mais delicado é termos um
acordo com os sindicatos, nomeadamente o sindicato dos pilotos. (...)
Não queremos um negócio da SATA que não se faça com os empregados. (...)
Não se pode mudar o modelo de negócio de uma empresa em dificuldade se
os empregados não tiverem de acordo. O que quer dizer que se os
empregados não quiserem salvar a sua própria empresa, também têm a
capacidade, a autoridade, para destruir a sua própria empresa. Têm esse
poder”.Na entrevista ao jornal online, Carlos Tavares estabelece
três vertentes que são precisas para “reconstruir”a Azores Airlines: a
financeira e a do modelo de negócio.“Ninguém está interessado na
transação da SATA se não houver uma mudança de modelo de negócio que
torne a transação credível. E para que essa mudança possa acontecer
temos que ter uma mochila que não está carregada de passivo e fazer isso
com os empregados”.Sobre se o passivo será assumido pelo Governo
Regional, Tavares remete para o executivo açoriano; sobre o modelo de
negócio, entende que a SATA pode ser rentável, apresentando a fórmula.
Além do óbvio - operar apenas rotas rentáveis -, o elemento do
consórcio aponta custos competitivos, “que não tem hoje”, escolha de
rotas de maneira inteligente e “se tiver uma gestão operacional
protegida da interferência política”.Carlos Tavares, que não se vê
como CEO da companhia, “mas ser acionista ou presidente do conselho de
administração, é possível”, explica ainda o interesse que a Azores
Airlines tem.“É pequena, 400 milhões de receita, 10 aviões, 1,5
milhões de passageiros, um hub em Ponta Delgada. É uma empresa que se
pode endireitar, porque tem uma dimensão humana. Os Açores são uma
plataforma no meio do oceano Atlântico. Tem uma capacidade estratégica
em voar para as Américas e voar para a Europa com aviões single-ailed
(modelos com apenas um corredor). É uma plataforma, um porta-aviões no
meio do Atlântico. E, portanto, isso tem interesse”.De recordar que o
júri do concurso, a administração da SATA e a o consórcio
Newtour/MSAviation reúnem-se dia 13 de outubro, segunda-feira, no dia D
da privatização da Azores Airlines.