Proposta de financiamento da UE não é adequado nem justo para Portugal
17 de fev. de 2020, 13:08
— Lusa/AO Online
"O
presidente do Conselho [Europeu] apresentou uma proposta que não é boa,
não corresponde às necessidades da Europa", afirmou António Costa à
entrada de uma reunião extraordinária da Comissão Permanente de
Concertação Social, defendendo que a proposta de orçamento "não
corresponde aquilo que é a necessidade de preservar a política de
coesão".O primeiro-ministro defendeu ainda
que a proposta não possibilita a Portugal "prosseguir uma trajetória de
recuperação" da sua economia, "onde os fundos comunitários têm um papel
absolutamente essencial", e reafirmou que a posição do Governo "é
negativa" quanto a essa proposta."Presumo
que com os parceiros sociais encontraremos uma sintonia de posições com o
Governo, como agora temos tido nesta matéria, porque nesta matéria
estamos todos juntos na defesa daquilo que é o interesse nacional",
acrescentou. Em declarações aos
jornalistas, António Costa lembrou que existem várias propostas para o
orçamento da União Europeia, e explicou que o executivo se tem
"concentrado menos na discussão do volume global, mas mais naquilo que é
necessário para que a Europa tenho um orçamento ao nível das suas
ambições". O primeiro-ministro disse ainda
que, "entre a proposta da Comissão e a do Parlamento Europeu é onde o
Conselho devia procurar encontrar um consenso"."Parece-me
errado o presidente do Conselho, em vez de procurar uma aproximação
entre as posições da Comissão e a do Parlamento Europeu, esteja
aparentemente obcecado em procurar ir ao encontro de alguns Estados
membros, que são uma minoria no Conselho", comentou."Acho que estamos a ir no caminho errado", acrescentou. O
primeiro ministro disse ainda que, no momento em que a União Europeia
"ainda agora se dividiu com a saída Reino Unido, seria um péssimo sinal
que enfraquecesse a sua coesão", ao reduzir verbas para esse efeito.António
Costa falou ainda do objetivo de manter um nível de financiamento
adequado e justo" e lembrou que Portugal "é o único país" que sofreu um
"programa de ajustamento muito duro" e que, neste momento, sofre "uma
perda significativa" de receitas da União Europeia, nas propostas
apresentadas.Na sexta-feira, em Bruxelas, o
presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, ameaçou um chumbo da
assembleia europeia, que tem a palavra final, à nova proposta do
Conselho para o orçamento plurianual da União Europeia (UE), recusando
negociar “a qualquer custo”. “A proposta
em cima da mesa não é uma base satisfatória para alcançar um
orçamento que responda aos compromissos assumidos no início do novo
mandato, pelo que exorto os chefes de Estado e de Governo a envidarem
todos os esforços para melhorá-la, no âmbito da cimeira de 20 de
fevereiro, porque, caso contrário, o Parlamento não poderá aceitá-la”,
avisou David Sassoli em comunicado.A
proposta de orçamento da UE para 2021 a 2027 que o presidente do
Conselho Europeu, Charles Michel, vai apresentar aos líderes dos
Estados-membros contempla contribuições equivalentes a 1,074% do
Rendimento Nacional Bruto (RNB) conjunto da União, muito abaixo das
pretensões de Portugal e do Parlamento Europeu.Um
grupo alargado de Estados-membros, denominados os “Amigos da Coesão”,
com Portugal à cabeça, têm reafirmado a sua firme oposição a cortes
sobretudo nesta política, assim como na PAC.A
proposta elaborada por Charles Michel continua a ser inferior àquela
apresentada originalmente pela Comissão Europeia (que contemplava
contribuições de 1,114% do RNB), e muito aquém do valor de 1,3% do RNB
defendido pelo Parlamento Europeu, que tem a última palavra no processo
negocial.O orçamento da UE a longo prazo
tem de ser aprovado por unanimidade no Conselho e ter depois o aval por
maioria no Parlamento Europeu. Deverá entrar em vigor em 01 de janeiro
de 2021.Se as divergências subirem de tom, as negociações poderão gerar uma crise institucional na UE.