Projeto R-R9: do desperdício à expressão

Hoje 10:15 — Daniela Arruda

Recriaçores-Revolução das 9 - R-R9 é um projeto que quer transformar a forma como os jovens percebem e consomem moda. Tem como objetivo sensibilizar a comunidade jovem para os impactos ambientais e sociais da fast fashion, promovendo alternativas mais conscientes, sustentáveis e éticas.O projeto é coordenado por TAT, artista residente formada em Artes Visuais, na Oficina do Largº, e quer envolver a comunidade, permitindo que os jovens não desenvolvam apenas competências criativas e técnicas, mas também reflitam sobre os efeitos do consumo sem controlo e da exploração na indústria têxtil.As oficinas começaram em agosto e vão até abril de 2026. Os participantes, com idades entre os 15 e os 35 anos, participam em oficinas práticas, onde roupas e objetos sem uso são transformados em peças novas. As técnicas incluem costura manual e à máquina, pintura, stencil e reaproveitamento de tecidos. Mochilas antigas podem virar malas funcionais, camisas e tops podem ser reinventados, e retalhos transformam-se em tapetes, almofadas ou roupas personalizadas.Além da criatividade, os participantes também desenvolvem noções de empreendedorismo, já que algumas peças poderão ser vendidas futuramente.A R-R9 quer ir além da prática artística. Estão previstas conversas informais e jogos educativos que incentivam a reflexão sobre o impacto da moda na sociedade e no meio ambiente, abordando temas como desperdício têxtil, exploração laboral, uso de materiais sintéticos e poluição por microplásticos. O projeto pretende estimular hábitos de consumo mais responsáveis, incentivando a procura por segunda mão, troca ou reaproveitamento de roupas.O contexto do projeto abrange grandes marcas globais que ganham cada vez mais espaço no dia a dia e nas redes sociais, estando muitas vezes associadas à exploração laboral, produção em excesso com químicos tóxicos e uso de materiais como o poliéster, que liberta microplásticos a cada lavagem, alerta TAT.O desperdício têxtil também é alarmante: “Já foi verificado que 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis são enviados para países do hemisfério sul por ano. As consequências a nível social, económico e ambiental são graves”, acrescenta. “Só para dar uma ideia, em São Miguel existem 200 toneladas de roupa às escuras num armazém, e outras 50 já foram incineradas”.O projeto culminará num desfile que reunirá as peças criadas nas oficinas. A artista residente pretende, com esta iniciativa, mostrar que a moda pode ser um espaço de expressão pessoal, resistência e transformação social.Sobre compras conscientes, TAT alerta para as questões que se deve fazer antes de adquirir: “Vou usar regularmente? Preciso mesmo? Posso adquirir algo semelhante em segunda mão? Consigo emprestado? Qual o material e em que condições éticas? Vai durar bastante?”. Confessa ainda: “Eu própria já consumi sem consciência, mas é essencial perceber o caminho que o produto fez até chegar às nossas mãos”.