Projeto permite criar nos Açores base de dados de jamantas chilenas
4 de abr. de 2019, 18:31
— LUSA/AO Online
“A base de dados tem 143
indivíduos de jamantas chilena e 29 indivíduos de manta oceânica, uma
segunda espécie também avistada no arquipélago”, explicou à agência Lusa
a mentora do projeto ‘Manta Catalog Azores’, criado há sete anos, com o
objetivo de “aumentar o conhecimento sobre as espécies de jamantas que
visitam o arquipélago e contribuir para a sua preservação”.Esta
base de dados conta com a participação de dois milhares de
cidadãos-cientistas e recebeu o segundo lugar do Prémio Terre de Femmes,
que distingue projetos a favor do ambiente desde 2009."Em
causa estão duas espécies carismáticas e ainda desconhecidas",
sustentou Ana Filipa Sobral, salientando que o arquipélago é
"privilegiado" porque, nos Açores, formam-se "grandes grupos daquelas
espécies", o que constitui "uma oportunidade única para estudar estes
animais".Segundo a bióloga, aquelas
espécies "são vistas regularmente sazonalmente por altura do início do
verão em montes submarinos nos Açores, e formam grandes cardumes".Associado
a isso, está o desenvolvimento de uma indústria de mergulho direcionada
à observação destas espécies, com turistas que se deslocam aos Açores
para mergulharem com estes animais.O
projeto de Ana Filipa Sobral resulta do seu mestrado na Universidade dos
Açores, no campus da Horta (Faial), e contou com o contributo de
mergulhadores, turistas e da comunidade.Neste
projeto, já foi possível reunir “mais de dois mil mergulhos de
cidadãos-cientistas, cinco mil fotografias e 58 horas de vídeo”,
indicou.A informação recolhida permitiu
aferir que existem três diferentes espécies de jamantas nos Açores – a
manta oceânica, a jamanta chilena e a jamanta gigante –; que os montes
Ambrósio, perto de Santa Maria, e Princesa Alice, perto das ilhas do
Faial e do Pico, são os únicos locais conhecidos em todo o mundo onde as
jamantas chilenas formam grande agregações, entre junho e outubro; e
que todos os indivíduos que visitam estas águas são adultos e muitas das
fêmeas estão grávidas, adianta ainda, admitindo que "as águas açorianas
sejam preponderantes para a reprodução da espécie".Atualmente
são conhecidas dez espécies, havendo ameaças relacionadas com "a
crescente procura do mercado medicinal asiático pelas suas guelras" e
"pela quantidade de jamantas capturadas de forma acidental". A investigadora espera ainda que o prémio permita desenvolver ações de sensibilização para a conservação das jamantas.A bióloga defende ainda a criação de um santuário de jamantas nas águas à volta da ilha de Santa Maria. Ana
Filipa Sobral está atualmente a trabalhar no seu doutoramento, na
Universidade dos Açores, num projeto que envolve a genética dos tubarões
e raias dos Açores com uma bolsa do Fundo Regional para a Ciência e
Tecnologia.