Projeto estuda jamantas e tubarões azuis nos Açores através de método inovador
18 de out. de 2017, 11:18
— Lusa/AO Online
“Tivemos que, realmente, inovar e
criar novas metodologias, abdicando-se dos métodos tradicionais de
telemetria, como sempre fizemos e fazem os colegas a nível
internacional”, disse à agência Lusa o biólogo marinho Jorge Fontes, do
Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores.Segundo
Jorge Fontes, o método tradicional da telemetria passa pela captura,
retenção e formas de colocar transmissores “bastante invasiva”, através
da colocação de um pequeno arpão no músculo do animal.Agora, com
recurso ao mergulho, são instalados nos animais aparelhos “sem que estes
se apercebam que estão a ser seguidos e manipulados”, explicou.O
especialista em ecologia marinha precisou que estes aparelhos são
transmissores em formato de argola colocados nos animais junto à
barbatana quando estes estão em “completa liberdade”, residindo também a
inovação nas plataformas de receção de dados.Esta é, também,
resultado de uma parceria com um centro de inovação e engenharia sediado
em Matosinhos que desenvolve trabalhos para a indústria aeronáutica,
aeroespacial e mobilidade elétrica, entre outras áreas.Jorge
Fontes acrescentou que o projeto, iniciado há cerca de um ano, pretende
apurar onde andam as jamantas e os tubarões azuis quando não estão nos
Açores e a importância do arquipélago para o seu ciclo de vida.O
biólogo considerou que o estudo resultante deste trabalho é “muito mais
importante” no caso das jamantas, porque se “conhece muito mal a sua
ecologia”.“Conhece-se ainda muito pouco sobre o que fazem quando
estão nos Açores, uma vez que se trata de uma espécie sazonal que se
agrega em apenas dois montes submarinos na região”, que não se encontra
ameaçada, mas que “já coloca preocupações em termos de conservação”,
declarou.De acordo com o investigador, “já existe uma ideia muito
melhor relativamente à sua ecologia espacial, particularmente os
padrões de migração e utilização do seu ‘habitat’ do que há alguns
anos”.Com o trabalho já desenvolvido com as jamantas - que foram
seguidas durante seis a nove meses após o início das suas migrações -
foi possível concluir que “fizeram um percurso idêntico, rumando a sul,
até Cabo Verde” no início do outono, apontou."Os tubarões azuis
são um quadro muito mais complexo, utilizam todo o oceano, estando a
espécie no arquipélago todo o ano, embora sejam segmentos diferentes da
mesma população e com hábitos diferentes em função da época do ano",
disse.Jorge Fontes declarou que, para já, a presença das empresas
marítimo-turísticas não tem gerado “nenhum impacto negativo” nos
'habitats' das jamantas, mas "com o previsível crescimento desta
atividade há que conhecê-los para adotar medidas que visem mitigar
eventuais impactos".O investigador estima que nos próximos dois
anos serão conhecidas as conclusões deste trabalho, cuja divulgação
poderá apoiar a atividade marítimo-turística, para que seja “sustentável
e responsável".