Projeto de investigação quer colmatar défice de oferta do ananás dos Açores no verão
24 de set. de 2017, 11:10
— Lusa / AO online
"Este
projeto pretende alterar as condições tecnológicas de produção visando
assegurar bons ananases, de qualidade e maiores dimensões, para o
período de verão", declarou à agência Lusa Carlos Arruda, referindo que
este terá a duração de três anos, estendendo-se até 29 de fevereiro de
2020. A iniciativa resulta, "em grande parte, da procura turística" do ananás nos Açores,
que se produz apenas na ilha de São Miguel, disse o responsável,
explicando que, "normalmente, os frutos da produção atual [verão] são
mais pequenos e menos rentáveis para os produtores", contrariamente ao
produto no Natal, que "é maior e menos ácido, provocando maior procura".
O professor aposentado do Instituto Superior de Agronomia e
especialista em solos, produtividade e rega referiu que o ananás absorve
à noite dióxido de carbono, acumulando-o sob a forma de ácidos que são
transformados já durante o dia através do processo de fotossíntese. Nas
regiões tradicionais de produção deste fruto, feita ao ar livre, "os
dias são iguais às noites", o que favorece o seu cultivo. "No
sentido de procurar melhores condições para a produção na região, é
possível introduzir [nas estufas de cultivo] o sistema de 'blackout',
fazendo com que as noites de verão sejam mais longas e os dias mais
curtos do que efetivamente são, criando-se um equilíbrio", declarou o
coordenador do projeto Assim, nos Açores,
onde o ananás é produzido em estufas de vidro, Carlos Arruda vai
"manipular a noite e o dia de forma contínua", admitindo como cenário de
trabalho estender as noites de verão, com cerca de seis horas, para as
dez, reduzindo artificialmente o fim de tarde ou a manhã do dia. O
investigador acrescentou que, desta forma, quando uma cortina negra for
colocada nas estufas, impedirá a entrada da luz, estando, nesta altura,
a radiação alta e as temperaturas também, podendo assim, a produção de
ananás "arrancar a toda a velocidade". Além do 'blackout',
Carlos Arruda esclareceu que vai ter de ser feita uma "indução floral
forçada", obrigando "a uma alteração nas condições de produção de
plantio" do ananás. O responsável destacou que com este processo de programação, apoiado pelo Programa de Desenvolvimento Rural dos Açores (Prorural +), é possível gerar "garantias de que a produção final do ananás terá lugar nos meses de verão". Segundo
o investigador, a cultura do ananás oscila entre os 14 e 16 meses em
estufa, podendo surgir frutos fora da altura adequada de produção. Cerca
de 50 a 60% desta está direcionada para o Natal. O ananás dos Açores,
produzido de forma biológica, ostenta a denominação de origem protegida
(DOP) com base num regulamento comunitário, tendo surgido no
arquipélago como uma cultura alternativa ao ciclo da laranja. É
originário da América do Sul e Central, tendo sido introduzido no
arquipélago como planta ornamental em meados do século XIX. As primeiras
explorações de caráter comercial surgiram em 1864.