Projeto ATLAS descobre 12 novas espécies no mar profundo do oceano Atlântico
19 de jan. de 2021, 18:01
— Lusa/AO Online
“Doze
novas espécies de briozoários, moluscos e cnidários do mar profundo
foram pela primeira vez descritas por cientistas. Entre eles encontra-se
um bivalve apelidado de ‘Myonera atlasiana’ (o nome faz referência ao
próprio título do projeto)”, lê-se no comunicado.Financiado
por fundos europeus, o projeto ATLAS junta “mais de 80 investigadores
de países com fronteiras com o Atlântico Norte” e realizou em
quatro anos 45 expedições científicas, que, segundo o Observatório do
Mar dos Açores, contribuíram “significativamente para o conhecimento
acerca dos ecossistemas do mar profundo do Atlântico Norte”.Nos
Açores, foram detetadas quatro novas espécies, “através de um estudo
liderado pelo IMAR/Okeanos”, com os investigadores Marina Carreiro
Silva, Filipe Porteiro e Íris Sampaio, em colaboração com outros centros
de investigação europeus, como a Fundación Museo del Mar de Ceuta
(Espanha), o Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Trieste
(Itália), o Ifremer (França) e a Stazione Zoologica A. Dohrn de Nápoles
(Itália).O cnidário ‘Epizoanthus
martinsae’, que coloniza os esqueletos de corais negros dos Açores, foi
uma das novas espécies descobertas, tendo sido encontrado no canal entre
as ilhas do Faial e do Pico, “a cerca de 360 metros de profundidade,
com o auxílio do submarino Lula 1000 da Fundação Rebikoff-Niggeler”.O
nome da espécie foi atribuído “em homenagem à norueguesa Helen
Martins”, investigadora jubilada que se estabeleceu na cidade da Horta,
na ilha do Faial, em 1976, “onde foi pioneira em linhas de investigação
que ainda hoje decorrem”.Segundo os
investigadores, estas espécies “provavelmente já sofrem os efeitos das
alterações climáticas”, mas “o mar profundo permanece em grande parte
ainda muito desconhecido”.“A descoberta de
novas espécies no mar profundo alerta para o desconhecimento que ainda
existe sobre estes ambientes, numa era em que se estima que cerca de um
milhão de espécies de animais e plantas estejam hoje ameaçadas de
extinção e que muitas irão desaparecer já nas próximas décadas”,
salientou a investigadora Marina Carreiro Silva, do IMAR/Okeanos, líder
do estudo nos Açores, citada em nota de imprensa, admitindo que os
“animais recém-descobertos podem estar já sob ameaça das mudanças
climáticas”.O projeto concluiu que “os
ecossistemas do mar profundo estão altamente ameaçados”, tendo em conta
que a circulação do Oceano Atlântico “abrandou consideravelmente nos
últimos 150 anos devido às alterações climáticas”.“As
descobertas sugerem ou indicam também que o aquecimento do oceano, a
acidificação e o decréscimo de alimento podem alterar drasticamente a
disponibilidade e localização de habitats adequados para corais de águas
frias e peixes de profundidade de importância comercial até ao ano de
2100”, lê-se no comunicado.Segundo o
investigador Telmo Morato, coordenador do estudo de biodiversidade e
biogeografia do projeto, “foram realizados grandes avanços do
conhecimento do mar profundo do Atlântico Norte, impensáveis há alguns
anos”, e esse conhecimento foi transferido para a decisão política a
diferentes níveis.O coordenador do projeto
ATLAS, J. Murray Roberts, professor do departamento de Geociências
da Universidade de Edimburgo, considera que o desafio para a próxima
década é “pegar nestes novos conhecimentos sociais e científicos, e
utilizá-los para criar melhores políticas e planos para atividades
humanas no oceano verdadeiramente sustentáveis.”“Toda
a gente está consciente da importância de proteger as florestas
tropicais e outros habitats preciosos existentes em terra, mas poucos
têm noção de que existem tantos, se não mesmo mais, locais especiais no
oceano. No ATLAS estudámos os ecossistemas mais vulneráveis do Atlântico
profundo e compreendemos agora quão importantes, interligados e frágeis
estes são. Descobrimos também que quem habita em redor do Atlântico
deseja preservar os ecossistemas do mar profundo, para que permaneçam
saudáveis para os seus filhos e netos”, frisou.