Programa para imigrantes ilegais nos EUA satisfaz portugueses, mas mantém insegurança
29 de jun. de 2020, 10:13
— Lusa/AO Online
O Supremo Tribunal de Justiça dos EUA rejeitou
uma tentativa do atual Presidente, Donald Trump, de colocar fim às
proteções legais oferecidas pelo programa DACA a cerca de 650.000 jovens
imigrantes com menos de 30 anos.Para um
conselheiro das comunidades portuguesas em Rhode Island, uma conselheira
da imigração de New Rochelle e o diretor de uma organização sem fins
lucrativos em Massachusetts, o programa é bom para os EUA, não só para
os imigrantes.O programa DACA, criada pelo
ex-Presidente democrata Barack Obama, dá aos imigrantes ilegais a
autorização para trabalhar nos Estados Unidos e proteção contra
tentativas de deportação.João Pacheco,
conselheiro das comunidades portuguesas de Rhode Island considera-se
“satisfeitíssimo” e otimista com a continuação do DACA: “Tenho para mim
que isso vai resolver-se e essas pessoas [imigrantes ilegais] vão
permanecer aqui. Estou convencidíssimo que isso vá acontecer assim”.Para
Isabelle Coelho-Marques, conselheira para os assuntos da imigração na
cidade de New Rochelle, a decisão do Supremo Tribunal “permitiu que os
beneficiários do DACA possam respirar com um bocadinho de alívio, mas a
verdade é que continuam a viver com o mesmo limbo e receio”.A
conselheira acredita que decisão do Supremo Tribunal “não muda nada”,
apesar de ser considerada na imprensa um grande revés contra a
administração de Trump.“Significa que a
incerteza dos últimos oito anos, desde a introdução do DACA, continua”,
visto que o atual Presidente dos EUA continua a perseguir o objetivo de
pôr fim ao programa, considera Isabelle Coelho-Marques.Na
visão da luso-americana, se Donald Trump for reeleito e continuar no
cargo, “qualquer português que esteja ao abrigo do DACA vai estar a
viver num nível de ansiedade muito grande”.Paulo
Pinto, diretor executivo da aliança de falantes de português em
Massachusetts, MAPS, defende a continuação do DACA, um programa que
considera “muito importante”.“Antigamente,
as crianças sem o programa DACA não tinham acesso a universidades,
bolsas de estudo ou assistência financeira” e tornava-se muito caro
poderem estudar, explica Paulo Pinto, da organização sem fins lucrativos
que presta cuidados de saúde e serviços sociais, MAPS.“Acabava o futuro deles”, porque não podiam continuar os estudos no ensino superior, declara Paulo Pinto.“O
mais interessante”, conta João Pacheco, é que as pessoas podem obter um
número de identificação de trabalhador nos serviços de IRS, pagar todos
os impostos legais nos EUA, e ainda assim, serem consideradas como
imigrantes ilegais.João Pacheco explica
que uma parte dos portugueses ilegais nos EUA excedem a autorização de
permanência de 90 dias, do programa de isenção de vistos de que Portugal
faz parte.Assim acontece que alguns
portugueses tenham ido para os Estados Unidos há mais de 15 anos, tenham
criado empresas e companhias de trabalho, sem nunca receberem
autorização de residência.Para o
conselheiro, “não se compreende” esta dualidade de princípios, que põe
uma etiqueta negativa sobre “pessoas que estão a trabalhar, a enriquecer
o país, a fazer descontos para o Governo e para a segurança social, sem
terem direitos”.Pensar no futuro do DACA implica pensar sobre as eleições presidenciais em novembro nos EUA.Prevê-se
que Donald Trump continue a opor-se ao programa, enquanto o democrata
Joe Biden posiciona-se a favor de facilitar a obtenção de residência ou
cidadania aos indocumentados, que se contam pelos 11 milhões nos EUA.“Acho
que muitos dos beneficiários do DACA estão com esperanças em alguém que
venha a ser Presidente, que seja mais amigável em referência ao
programa e, eventualmente, venha a criar um caminho legislativo para a
cidadania”, diz Isabelle Coelho-Marques.Paulo
Pinto considera que grande parte dos beneficiários do DACA “são
excelentes profissionais e estão a contribuir imensamente para a
sociedade americana”.Devido à proteção
legal que recebem com o programa DACA, os jovens imigrantes “não têm
medo de participar e estarem ativos”, considera Paulo Pinto.