Programa insiste num referendo sobre a regionalização em 2024
Governo
1 de abr. de 2022, 17:16
— Lusa/AO Online
“O
que está previsto no programa é que será feita uma avaliação à
transformação que foi feita no âmbito das CCDR [Comissões de Coordenação
e Desenvolvimento Regional] na última legislatura e, nesse contexto,
iniciar um diálogo que culminará num referendo sobre a regionalização,
tal como estava previsto. Primeiro uma avaliação do caminho na
descentralização e no reforço das CCDR e da sua legitimidade
democrática, e depois o lançamento de um debate nacional e de um
referendo sobre a regionalização”, sintetizou a ministra da Presidência,
Mariana Vieira da Silva, numa conferência de imprensa, em Lisboa.No
documento, o executivo sublinha que “considera que é essencial
aprofundar o processo de reforma do Estado, estabelecendo uma governação
de proximidade baseada no princípio da subsidiariedade”.Nesse
sentido, após o “maior processo de descentralização de competências das
últimas décadas” e depois de “ter sido concretizada a democratização
das CCDR”, com a eleição dos seus dirigentes por autarcas, pretende
abrir, “de forma serena e responsável, o debate em torno do processo de
regionalização nos próximos anos, com o objetivo de realizar um novo
referendo sobre o tema em 2024”.Segundo o
documento, é intenção do executivo “harmonizar as circunscrições
territoriais da administração desconcentrada do Estado e proceder à
integração nas CCDR dos serviços desconcentrados de natureza
territorial, designadamente nas áreas da educação, saúde, cultura,
ordenamento do território, conservação da natureza e florestas, formação
profissional e turismo, bem como dos órgãos de gestão dos programas
operacionais regionais e demais fundos de natureza territorial, sem
prejuízo da descentralização de algumas destas competências para as
comunidades intermunicipais e áreas metropolitanas”.No
âmbito da descentralização de competências para os municípios,
comunidades intermunicipais e freguesias, prevê identificar “novos
domínios” e “novas competências a descentralizar”, além de aprofundar as
“já descentralizadas”.O executivo
manifesta intenção de aplicar o novo regime de criação, modificação e
extinção de freguesias, “de modo a corrigir os erros da reforma
territorial de 2013”, e prevê ainda prosseguir a revisão do atual
sistema da classificação estatística regional NUT com a criação de duas
novas regiões NUTS II, na Península de Setúbal e do Oeste e Vale do
Tejo.No âmbito da transparência das
autarquias locais, pretende “possibilitar a realização de referendos
locais por iniciativa da câmara municipal, da assembleia municipal, da
junta de freguesia, da assembleia de freguesia ou de 5% dos eleitores” e
“criar um registo de interesses dos titulares de órgãos autárquicos”.Prevê
também prosseguir no aumento gradual da “participação das autarquias
locais na gestão das receitas públicas, convergindo até 2025 para o
nível médio dos países da União Europeia”, e “alargar a autonomia
municipal na gestão das taxas e benefícios fiscais relativos aos
impostos locais”.Relativamente à autonomia
regional, o programa do XXIII Governo Constitucional aprovado em
Conselho de Ministros, prevê, à semelhança do anterior (2019),
prosseguir o reforço do papel das regiões autónomas dos Açores e da
Madeira.“Existem áreas em que o reforço
das autonomias regionais pode e deve acontecer. É o caso da eficácia do
exercício das funções do Estado nas regiões autónomas ou, numa
perspetiva mais vasta, da dicotomia entre as funções do Estado e as
funções das regiões autónomas”, é referido.Nesse
sentido, uma das medidas previstas, que já estava inscrita no programa
do Governo socialista em 2019, é a criação de um Conselho de Concertação
com as Autonomias Regionais, composto por membros dos executivos da
República e regionais.Este órgão terá como
objetivo, conforme é explicado no documento, “valorizar o papel das
regiões autónomas no exercício das funções do Estado, seja pela
participação e colaboração no exercício das competências estatais nessas
regiões, seja pelo estabelecimento, quando necessário, de mecanismos de
colaboração nas respetivas políticas públicas”.Neste
âmbito, o Governo quer assegurar que “a existência das autonomias
regionais não significa, por si só, a ausência, abstenção ou menor
cuidado do Estado” quanto aos serviços que cumprem as suas próprias
funções nas regiões autónomas ou quanto ao cumprimento, nesses
territórios, de objetivos e fins do Estado.Entre
as medidas apresentadas pelo executivo destaca-se ainda a promoção da
contratualização, das parcerias e da ação conjunta “que suscite a
intervenção direta e mais próxima dos entes regionais em matérias
essenciais ao funcionamento dos serviços do Estado nas regiões
autónomas”, assim como o reforço da cooperação e da intervenção, legal
ou contratualizada, dos órgãos regionais “no cumprimento de objetivos e
fins do Estado que, nos Açores e na Madeira, são prosseguidos pelos
órgãos regionais, uma vez que, pela proximidade e conhecimento que têm,
estes se afiguram como um elemento potenciador da eficácia da ação
pública”.