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Profissionais têm perceção mais negativa do impacto de doenças crónicas do que os doentes

Os profissionais de saúde têm uma perceção mais negativa do impacto da doença renal crónica, da insuficiência cardíaca e da diabetes do que os próprios doentes, conclui um estudo que defende a comunicação como uma ferramenta terapêutica


Autor: Lusa/AO Online

Esta é uma das conclusões dos projetos Concordia, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP), apresentados em Lisboa e que foram dedicados à doença renal crónica, à insuficiência cardíaca e à diabetes mellitus tipo 2.

Na prática, as iniciativas identificaram as principais preocupações, impactos e constrangimentos sentidos pelos doentes crónicos, assim como as perceções dos profissionais de saúde, com o objetivo de melhorar a qualidade dos cuidados e os resultados em saúde e alinhar perceções, preocupações e prioridades entre as duas partes.

“Em todas as doenças analisadas, os profissionais percecionam um impacto mais negativo da doença do que as próprias pessoas que vivem com a doença”, concluiu o estudo, que avança que as maiores discrepâncias se verificam ao nível das dimensões emocionais, sociais e familiares, como autoimagem, vida familiar e sexualidade.

No caso específico da diabetes tipo 2, as pessoas com a doença identificam até “impactos positivos, como um maior autocuidado”, mas que são raramente reconhecidos pelos profissionais de saúde, apurou o projeto.

A equipa da ENSP chegou ainda à conclusão, relativamente à diabetes e à insuficiência cardíaca, que as preocupações estão mais centradas no presente, como no controlo diário da doença, nos sintomas e na qualidade de vida, enquanto, no caso da doença renal crónica, os doentes estão mais preocupados com as implicações futuras, caso da possibilidade de fazerem hemodiálise, transplantes e perda de autonomia.

O estilo de vida é a dimensão com menor nível de preocupação para as pessoas com doença, mas, em contrapartida, é uma das mais valorizadas pelos profissionais de saúde que participaram no Concordia.

Perante estas conclusões, o estudo defende, como implicações para as políticas de saúde, que a comunicação deve ser assumida como uma ferramenta terapêutica e de alinhamento de expectativas entre as duas partes – doentes e profissionais de saúde.

Além disso, preconiza a necessidade de uma “escuta ativa e valorização da experiência” das pessoas com doença, assim como a revisão dos modelos de avaliação clínica para integrar qualidade de vida, autonomia e literacia em saúde como critérios.

No âmbito do Concordia, foram consensualizadas dezenas de iniciativas para cada um dos projetos, que incidem em áreas como aproximação de perspetivas entre o doente e o profissional de saúde, promoção da literacia e acesso a cuidados de qualidade, entre outras.

Os três projetos, correspondentes a cada uma das doenças, mostraram que, ao escutar as pessoas com doença crónica, envolvendo-as no processo de cuidados, é possível “transformar a forma como se prestam cuidados, tornando-os mais humanos, mais eficazes e mais alinhados com as suas reais necessidades”, salienta a ENSP.